terça-feira, 28 de outubro de 2008

Também este dia passará

O dia ainda claro na igreja,
tudo em volta é esta solidão.
a vida em seus intervalos
o vazio da morte
a vida da vida.

Num mesmo
e outro tempo
meninos jogam futebol
até entardecer: horário de verão.

Ode Marítima

O que quero é levar pra Morte
Uma alma a transbordar de Mar,
Ébria a cair de coisas marítimas

PESSOA, Fernando. "Poesias de Álvaro de Campos". In: Ficções do Interlúdio. In: Obra poética. Vol. Único. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 2001.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Um João

João não era fabulista, mas a própria fábula. Desses amigos que não precisamos "fazer", pois os reconhecemos desde logo. Há uma espécie de energia em cada momento compartilhado e que às vezes não nos damos conta. Contigo foi diferente. Rápido, percebi. Por isso, continuarei pensando que virás ainda para mais uma "mão de vaca", uma visita ao Masp ou para irmos ao restaurante japonês. João, nesta terça-feira, o dia amanheceu, mas não para nós. Fica a sensação de que um cometa nos transpassou, iluminando-nos por alguns instantes e dizendo que a vida é possível, apesar de tudo, que nós passamos por ela e ela por nós, e que nela vale a pena ter alegria. Morre jovem o que os Deuses amam é um ensinamento muito antigo. Culparemos os deuses, então? Hoje, neste imenso e vazio agora, a pergunta já não nos cabe. Ficamos com nossa saudade, esta ausência tua para outra vida, para a mesma vida, a vida continuando no que você viveu. Você não se despediu, mas sabemos conosco que faltará a este mundo um pouco de tua alegria.

El Aleph

Compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia; estava na invenção de razões para que a poesia fosse admirável.

BORGES, Jorge Luis. "O Aleph". In: O Aleph. Tradução de Flávio José Cardozo. São Paulo: Ed. Globo, 2003.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Carta ao Homem do Povo Charlie Chaplin

Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duas horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.

Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração,
os párias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os recalcados,
os oprimidos, os solitários, os indecisos, os líricos, os cismarentos,
os irreponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. In: Poesia Completa. Volume Único. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 2002.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Astúcias do Dis-curso

Quando se ouve de Soninha Francine que a sua saída do PT deve-se a discordâncias com os rumos que o partido tomou, acho que todos devemos achar razoável e plausível o argumento. Quando Soninha entra para o PPS de Freire já não podemos pensar o mesmo. E o que dizer dos elogios que ela faz ao governador José Serra? Mas a gota d'água é este apoio a Kassab do DEMo. Que eu saiba nem Kassab, nem o DEMo são um jeito novo de fazer política. DEMo é PFL, que é Arena, e que é tudo o que há de mais atrasado neste país. "Ser jovem e idealista" é apenas um chavão marqueteiro associado ao que tem de pior na política. Votar na Soninha significa marcar uma posição: estar ao lado de "políticos tradicionais" e de um marketing que simula um olhar diferenciado sobre a política, mas que no fundo é muito pior do que tudo o que vimos e vemos por aí.

Partida

Porque eu reajo. A vida, a natureza,
Que são para o artista? Coisa alguma.
O que devemos é saltar na bruma,
Correr no azul à busca da beleza.

SÁ-CARNEIRO, Mário de. "Dispersão". In: Poemas. Edição Teresa Sobral Cunha. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Obra em Progresso

Sem querer inclinar-me para lá ou para cá, mas foi grosseirão o tal de Bagno, hein!