sexta-feira, 23 de maio de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Leitores IV

Só se lê bem aquilo que é lido com algum propósito pessoal. Pode ser até com a intenção de adquirir poder. Pode ser até mesmo com ódio ao autor.

Paul Valéry

Leitores III

Ler é traduzir, pois a experiência de cada pessoa com o texto é exclusiva. Um mau leitor é como um mau tradutor: interpreta literalmente quando deveria parafrasear, e adota a paráfrase quando deveria interpretar literalmente. Para aprendermos a ler de uma forma mais crítica, a erudição, embora bastante útil, é menos importante que o instinto; há grandes eruditos que, como tradutores, mostraram-se fracos.

AUDEN, W.H. "Ler". In: A Mão do Artista. Tradução de José Roberto O'Shea. São Paulo: Siciliano, 1993.

Caetano Veloso, 'cavalo' padecente

TRISTE BAHIA


Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

(In: Gregório de Matos. Crônica do Viver Baiano Seiscentista. Obra Poética Completa. Códice James Amado. Vol. 1. Rio de Janeiro: Record, 1999).


terça-feira, 20 de maio de 2008

The gouffre de nosotros

A ô-posição quer fazer CPI, mas desejava que o depoimento de André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), fosse secreto. Intentaram sem o menor pudor, como se entre uma atitude e outra não existisse um enorme abismo. André Fernandes recebeu o e-mail de José Aparecido Nunes com planilhas de gastos do governo FHC, o suposto dossiê, como ainda insiste a bolha. Muito bem. Além disso, sabe-se que Fernandes é um baqueano em CPIs e dava até palestras sobre o assunto. Não é possível a coincidência entre os dois fatos. Desse jeito, o Partidão da Imprensa vai se dar mal mais uma vez. Tal como José Agripino Maia. Ô, ô-posiçãozinha ...

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Leitores II

Há os que lêem e logo em seguida esquecem; há os que leram, mas passam a vida citando o que outros leitores citam; há os que citam livros que nunca leram; e há também, este um tipo especial, os que relêem os livros que nunca leram.

Leitores I

Há três classes de leitores: o primeiro, o que goza sem julgamento; o terceiro, o que julga sem gozar; o intermédio, que julga gozando e goza julgando, é o que propriamente recria a obra de arte.
Goethe

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Mengão Bi

"Quem não se comunica, se trumbica!", dizia Chacrinha. É evidente que o bordão teve sentido oposto para o Fenômeno.

Voto Camarão

O que dizer de José Agripino Maia (DEM-RN) ? Dos porões da ditadura veio à tona uma entrevista em que Dilma Rousseff afirma ter mentido muito em interrogatórios na década de 70, nos quais estava sob tortura. Maia tenta intimidar a ministra e suscitar que ela também estava mentindo no Senado. Dilma reage: "Eu fui barbaramente torturada, senador" (...) "Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para torturadores compromete a vida de seus iguais, entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador, porque mentir na tortura não é fácil". Acho que não é preciso dizer mais nada. O que aconteceu só reforça a tese de que "o grande ícone da moral", título propagandeado pelo espetáculo midiático, não passa de um filhote da dita dura. Desta vez Jajá deixou rabo-de-palha.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Flor

A pedra.
A pedra no ar, que segui.
Teu olho, tão cego como a pedra.

Éramos
mãos,
esvaziamos a escuridão, encontramos
a palavra, que ascendia do verão:
flor.

Flor - uma palavra de cegos.
Teu olho e meu olho:
procuram
água.

Crescimento.
O coração: de parede a parede
se forma.

Uma palavra ainda, como esta, e os martelos
vibram ao ar livre.

CELAN, Paul. "Prisão da Palavra". In: Cristal. Tradução de Claudia Cavalcanti. São Paulo: Ed. Iluminuras, 1999.

Investiment Grade

Hoje, o que acontece assusta. Disse João Cabral, no entanto, que a famosa frase de Adorno sobre o fim da poesia após Auschwitz era só uma boutade. Afinal, a arte sempre existiu e o mundo sempre foi violento. A poesia nasceu muito mais da infelicidade que da felicidade, diz Cabral. Mas a violência continua a assustar. De tão indômita, parece algo próprio de "nosso tempo". O mundo prometido em que a ciência e a democracia trariam níveis cada vez maiores de desenvolvimento técnico e moral não chegou. No capitalismo, a razão é só instrumental. Serve sempre a interesses escusos. A fuga do mito para soerguer a razão, como se sabe, nos levou aos campos de concentração. A razão dormiu. A razão teve insônia. E o que temos hoje, na verdade, são processos de controle cada vez mais elaborados. No supermercado, há placas que dizem: Sorria, você está sendo filmado. Quer dizer, não são mais necessários os antigos confinamentos. A prisão, a escola, o hospício, tudo está fora de moda. Em compensação, o capital cria outras formas de controle. Temos tornozeleiras ou coleiras eletrônicas que dispensam o modelo antigo. Elas são ligadas a um computador central, uma espécie de HAL, que nos elimina como indivíduo, deixando-nos sempre divíduos, sempre partidos. O controle começa já na produção, um controle, sobretudo, do corpo. Quanto mais técnica, mais controle e isso significa mais violência. E o que se vê são atos, que de tão estúpidos, parecem inexplicáveis. Talvez assim, poderíamos entender (ou desentender) o caso Isabella ou o do austríaco maluco. A maldade é fértil e engendra sempre maldade. Como nos lembra o indefectível Brás Cubas: O lábio do homem não é como a pata do cavalo de Átila, que esterilizava o solo em que batia; é justamente o contrário.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Sabedoria Wikipédia

São Isidoro foi arcebispo de Sevilha, considerado um dos grandes eruditos e o primeiro dos grandes compiladores medievais. Sua obra influenciou largamente toda a produção intelectual na Espanha medieval. Isidoro nasceu na cidade de Cartagena, Espanha, de uma família influente que foi crucial para as manobras político-religiosas que levaram os reis visigodos a converter-se do arianismo ao catolicismo. Diversos de seus familiares foram canonizados. Foi canonizado em 1598, e em 1722 o papa Inocêncio XIII o declarou Doutor da Igreja.

É considerado, hoje, patrono dos bons usuários da Internet.


San Isidoro de Sevilla