segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Às armas homens bons: eleições fraudadas pelos comunistas!


Isto é a mãe de todas as infâmias! Um ultraje, o mais vergonhoso roubo que a nação já viu, uma fraude indescritível contra a vontade nacional, quando todas as pesquisas sérias como a Dataprado indicava a clara vitória de Serra disparado no segundo turno, querem que aceitemos um resultado fraudado e mentiroso que indica a vitória da terrorista búlgara? Só temos uma resposta a essa infâmia, mas de vários calibres!


Formem vossos batalhões para lutar em defesa da Pátria amada ultrajada, este é o momento de nos levantarmos em armas contra o bolchevismo petista pois não podemos mais aguentar esta grande humilhação. Temos que agir, não posso vos prometer nada mais que a luta encarniçada até a vitória final. Lutaremos nos condomínios, lutaremos nos campos de golfe, lutaremos nos resorts, lutaremos em Higienópolis até que o último petista tenha sido aniquilado e a nação resgata das trevas petélicas que os marxistas a mergulharam sem dó.

Com as urnas fraudadas, as armas serão nossas companheiras até que o apedeuta usurpador seja deposto e a candidata búlgara fantoche seja impedida de tomar posse. Todo homem bom deverá engrossar nossas fileiras, assumindo os postos de comando como oficiais desse glorioso exército libertador que abrirá caminho a bala até o Palácio do Planalto para lá assentar José Serra na cadeira de mandatário maior da nação.

Marchai! Marchai!


 Mais uma do fantástico blog do Professor Hariovaldo Almeida Prado

Ressaca do feriadão

Segundo a jornalista Miriam Leitão, em comentário na manhã desta segunda-feira no “Bom Dia Brasil”, na Globo, não há nenhum ineditismo no fato de uma mulher ser eleita para presidir o Brasil. A princesa Isabel fez isso antes, no final da monarquia.

Primeira filha de D. Pedro 2º, Isabel (1846-1921) foi regente do império por três ocasiões, na ausência do pai. Numa delas, em 1888, promulgou a Lei Áurea. Miriam Leitão usou uma imagem republicana para comparar a monarca com a presidente eleita: “Ela exerceu o mandato em partes, né?”
A integra do comentário pode ser visto aqui. Um resumo pode ser lido abaixo:
Renato Machado: “Miriam Leitão, pela primeira vez uma mulher é eleita presidente da República. Qual é o significado deste fato?”
Miriam Leitão: “Importantíssimo. A última vez que uma mulher governou o Brasil foi no século 19. E agora no século 21 uma mulher vai governar o Brasil. (…)
Alexandre Garcia: “A Miriam me deixou com uma curiosidade. Que mulher governou o país no século 19?”
Miriam Leitão: “A princesa Isabel, em nome do seu pai, quando ele viajava pra… Somado, dá quase quatro anos. Ela exerceu o mandato em partes, né?”

Publicado originalmente no blog do Mauricio Stycer

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mulheres boas do Brasil, é hora de cumprir com vosso dever

Do Blog do Professor Hariovaldo Almeida Prado






Os homens bons da nação caminham unidos com as mulheres boas para juntos livrarem o país das chagas marxistas do PT, tendo cada um a sua parte e a sua função a desempenhar, dando o máximo de si, e se dando de corpo e alma ao nobre ideal de conquistar milhões de votos para consagrar a eleição de José Serra com a máxima votação possível. As mulheres boas têm fundamental importância no arrebanhamento de votos , através de suas relações colaterais, indicando aos bons pretendentes que o caminho para o coração passa pela eleição do nobre Almirante do Tietê.







Às jovens damas, devem também colaborarem, seguindo à riscas as recomendações de nosso líder maior, “Se é menina bonita, tem que ganhar 15 (votos). É muito simples: faz a lista de pretendentes e manda e-mail dizendo que vai ter mais chance quem votar no 45″, e assim, sutilmente iremos construir a mais bela vitória possível dentro da moralidade cristã, deixando claro a todos que somente Serra é do Bem. Mãos à obra!

Post Scriptum: Com a viagem inesperada da Ritinha, estou tendo a oportunidade de testar pessoalmente as habilidades da minha segunda assistente, Samanta Hauser , na arte de conquistar votos para Serra. A moça tem muito a aprender ainda mas é muito dedicada e tem futuro

sábado, 23 de outubro de 2010

Setembro, 23

primavera: primor do amor. rosas que caem, choro da dor. a primavera nada espera. é o desespero da flor.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Serra tumultua missa em Canindé-Ce

Discurso do presidente Lula na cerimônia de entrega prêmio Carta Capita

Discurso de Leonardo Boff e Chico Buarque

Silvia Buarque vota em Dilma

Tá Combinado

Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.

Caetano Veloso

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Professores lançam manifesto em defesa da educação pública

Professores universitários, de faculdade públicas e particulares, lançaram um manifesto e ainda estão colhendo assinaturas contra as propostas e os métodos políticos do candidato a presidência da República José Serra. E defendem um sistema educacional que priorize o ensino superior público.
Leia abaixo a íntegra do manifesto:

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando  dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

Antonio Candido, USP

Alfredo Bosi, USP
Fábio Konder Comparato, USP
Joel Birman, UFRJ
Carlos Nelson Coutinho, UFRJ
Otávio Velho, UFRJ
Marilena Chaui, USP
Walnice Nogueira Galvão, USP
Renato Ortiz, Unicamp
Laymert Garcia dos Santos, Unicamp
Dermeval Saviani, Unicamp
Laura de Mello e Souza, USP
Maria Odila L. da Silva Dias
Sergio Miceli, USP
Luiz Costa Lima, Uerj
Flora Sussekind, Unirio
João José Reis, UFBA
Ruy Fausto, USP
Franklin Leopoldo e Silva, USP
João Adolfo Hansen, USP
Eduardo Viveiros de Castro, UFRJ
Emilia Viotti da Costa, USP
Newton Bignotto, UFMG
Wander Melo Miranda, UFMG
Juarez Guimarães, UFMG
Heloisa Fernandes, USP
Maria Victoria de Mesquita Benevides, USP
Glauco Arbix, USP
Vera da Silva Telles, USP
Theotonio dos Santos, UFF
Ronaldo Vainfas, UFF
Gilberto Bercovici, USP
Benjamin Abdalla Jr., USP
Enio Candotti, UFRJ
Angela Leite Lopes, UFRJ
Sidney Chalhoub, Unicamp
Arley R. Moreno, Unicamp
Maria Ligia Coelho Prado,USP
Celso F. Favaretto, USP
José Castilho de Marques Neto, Unesp
Emir Sader, Uerj
Scarlett Marton, USP
José Sérgio F. de Carvalho, USP
José Arbex Jr., PUC-SP
Peter Pal Pelbart, PUC- SP
Viviana Bosi, USP
Irene Cardoso, USP
Wolfgang LeoMaar, UFSCar
João Quartim de Moraes, Unicamp
Léon Kossovitch, USP
Vladimir Safatle, USP
Leda Paulani, USP
Ildeu de Castro Moreira, UFRJ
José Ricardo Ramalho, UFRJ
Ivana Bentes, UFRJ
Cibele Saliba Rizek, USP
Afrânio Catani, USP
Sergio Cardoso, USP
Ricardo Musse, USP
Armando Boito, Unicamp
Enid Yatsuda Frederico, Unicamp
Andréia Galvão, Unicamp
Cynthia Sarti, Unifesp
Luiz Roncari, USP
Flavio Aguiar, USP
Iumna Simon, USP
Luis Fernandes, UFRJ
Marcos Dantas, UFRJ
Laura Tavares, UFRJ
Sérgio de Carvalho, USP
Marcos Silva, USP
Alessandro Octaviani, USP
Ligia Chiappini, Universidade Livre de Berlim
Celso Frederico, USP
José Carlos Bruni, USP
José Jeremias de Oliveira Filho, USP
Sebastião Velasco e Cruz, Unicamp
Liliana Segnini, Unicamp
Maria Lygia Quartim de Moraes, Unicamp
Ladislau Dowbor, PUC-SP
Bernardo Ricupero, USP
Adriano Codato, UFPR
Lygia Pupatto, UEL-PR
Henrique Carneiro, USP
Adélia Bezerra de Meneses, Unicamp
Maria Lúcia Montes, USP
Francisco Rüdiger, UFRS
Luís Augusto Fischer, UFRGS
Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, PUC-SP
Gil Vicente Reis de Figueiredo, UFSCar
Carlos Ranulfo, UFMG
Paulo Benevides Soares, USP
André Carone, UFScar
Heloisa Buarque de Almeida, USP
Emiliano José, UFBA
Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero

Spok vota em Dilma

Rolo vota em Dilma

Margareth Menezes vota em Dilma

Naná Vasconcelos vota em Dilma

A Vila Isabel vota em Dilma

Mano Brown vota em Dilma

Chico Buarque vota em Dilma

Fernando Morais vota em Dilma

Leonardo Boff vota em Dilma

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os números e o futuro

Desde a Antiguidade, os homens voltam-se aos números para tentar desvendar o futuro. Talvez haja alguma sabedoria neste comportamento. Podemos testá-lo perguntando aos números como será o Brasil depois desta eleição presidencial.

Analisemos a hipótese do candidato oposicionista, José Serra, ganhar. Seu partido conseguiu eleger apenas 53 deputados. Os outros partidos que o apoiam (DEM, PPS, PMN e PT do B) conseguiram 62 deputados. Não se vai muito longe com uma base de 115 deputados em uma Câmara com 513 membros.
Será necessário compor com partidos que fizeram parte da coligação do governo, como PMDB, PP e PR. Partidos conhecidos pelo seu perfil radicalmente fisiológico.

Políticos costumam dizer que não fazem loteamento de cargos, que são capazes de tecer alianças programáticas com os "melhores" de cada partido. Qualquer pessoa sensata, ao contrário, sabe que partidos como estes cobrarão muito alto para dar sustentação parlamentar ao governo, já que eles sabem que a maioria governista será frágil.

Todas as vezes que uma proposta importante for votada, eles colocarão a faca contra a garganta do Executivo para exigir mais um ministério de "porteira fechada".
Ainda mais porque haverá uma forte oposição (se levarmos em conta o PT mais os partidos que giram em torno dele, como o PC do B, PSB e PDT) de 165 deputados.
A situação no Senado é mais dramática, pois o possível governo Serra teria apenas 19 de 81 senadores.
Tais números, por si só, indicariam um governo refém de negociações intermináveis.
No entanto, há ainda um dado novo. É consenso que o vencedor desta eleição ganhará por margem estreita. Isto nunca ocorreu desde a redemocratização. Ou seja, a sociedade brasileira assistiria à posse do próximo presidente dividida e (a levar em conta o nível do debate atual) profundamente acirrada.

Serra teria que fazer frente à oposição popular, vinda de quem perdeu por muito pouco, apelando sistematicamente àqueles setores que impulsionaram sua campanha na reta final -a saber, a ala mais reacionária das igrejas, o "cinturão do agronegócio" e os arautos do pensamento conservador nacional. Ou seja, um governo minoritário refém de setores obscuros do atraso para fazer frente à oposição.

Mas ainda há algo que os números não mostram. Mesmo entre seus aliados, é consenso que a personalidade de José Serra é, digamos, bonapartista. Caracterizado por ser centralizador e avesso à crítica (basta ver sua coleção de reações destemperadas a jornalistas que lhe colocam perguntas incômodas), José Serra mostrou inabilidade até para sustentar sua coligação (o PTB a abandonou por se sentir desprestigiado). Sua capacidade de negociação é limitada, vide a novela da escolha de seu vice.

Governo minoritário, sociedade acirrada, presidente bonapartista. Desde a eleição de Fernando Collor, o Brasil não conheceu uma situação com tais componentes. Para não deixar muito à mostra esta realidade problemática que os números mostram, talvez o melhor seja mesmo discutir crenças religiosas e correr atrás de mulheres que abortam.

VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.

República Fundamentalista Cristã

Um poder moderador vigia o debate político e impede que pautas de modernização social cheguem ao Brasil


FUNDADA EM 31 de outubro de 2010 após a expulsão dos infiéis do poder, a República Fundamentalista Cristã do Brasil apareceu em substituição à República Federativa do Brasil. Dela, ela herdou quase tudo, acrescentando uma importante novidade institucional: um poder moderador, pairando acima dos outros Três Poderes e composto pela ala conservadora do catolicismo em aliança com certos setores protestantes. Os mesmos setores que, nos EUA, deram suporte canino a George W. Bush. A função deste poder moderador consiste em vigiar o debate político e social, impedindo que pautas de modernização social já efetivadas em todos os países desenvolvidos cheguem ao Brasil.
Na verdade, a fundação desta nova República começou após uma eleição impulsionada pelo problema do aborto. Procurando uma tábua de salvação para uma candidatura que nunca decolara e que passou ao segundo turno exclusivamente por obra e graça de Marina Silva, José Serra resolveu inovar na política brasileira ao instrumentalizar politicamente os dogmas mais arcaicos deste que é o maior país católico do mundo.
Assim, sua mulher foi despachada pelos quatro cantos para alertar a população contra o fato de Dilma Rousseff apoiar "matar criancinhas" (conforme noticiou um jornal que declarou apoio explícito a seu marido). As portas de seu comitê de campanha foram abertas para os voluntários da TFP, com seus folhetos contra a "ameaça vermelha" capaz de perverter a família brasileira através da legalização da prostituição e do casamento gay (conforme noticiou o blog do jornalista Fernando Rodrigues). A internet foi invadida por mensagens "espontâneas" contra a infiel Dilma e o PNDH-3.
José Serra já havia dado a senha quando afirmou, em um debate, que legalizar o aborto seria uma "carnificina". Que 15% das mulheres brasileiras entre 18 e 39 anos tenham abortado em condições indescritíveis, isto não era "carnificina". Carnificina, para Serra, seria o Brasil importar esta prática tão presente na vida dos "bárbaros selvagens" que são os ingleses, franceses, alemães, norte-americanos, espanhóis, italianos, ou seja, todos para quem o aborto é, pasmem, uma questão de saúde pública e planejamento familiar.
Confrontada com esta guinada, a "classe média esclarecida" não se indignou. As clínicas privadas que fazem abortos ilegais continuariam funcionando. O direito sagrado de salvar a filha de classe média de uma gravidez indesejada continuaria intacto. Para tal classe, o discurso sobre "valores cristãos" era apenas uma radicalização eleitoral.
Quando o poder moderador, confiante em sua nova força, começou a exigir que o criacionismo fosse ensinado nas escolas, que o Estado subvencionasse atividades de proselitismo religioso travestidas de filantropia, já era tarde. Então, alguns lembraram, com tristeza, dos pais fundadores da República Federativa do Brasil, decididos a criar uma república laica onde os dogmas religiosos não seriam balizas da vida social. Uma república onde seria possível dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Uma República que morreu no dia 31 de outubro de 2010.

VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.

Virgínia Barros, presidente da UEP, vota em Dilma

Marilena Chauí vota em Dilma

Marilia Guimaraes vota em Dilma

Sonhos e pesadelos

Por Emir Sader, na Agência Carta Maior

Circulou muito o editorial do Brasil de Fato, que desemboca no diagnóstico: Dilma não é o governo dos nossos sonhos. Serra é o governo dos nossos pesadelos.

A esquerda, em todas suas variantes, tem que entender que uma continuidade do governo Lula significará o prolongamento das condições de luta atuais, em situação melhor, porque a direita terá sofrido uma grande derrota.

Uma eventual vitória do Serra será, inquestionavelmente, uma vitória da direita. E uma derrota para todos os setores da esquerda. Porque todos pagarão o preço disso.

Não por acaso todos os movimentos sociais – a começar pelo MST – têm clareza absoluta disso, até porque em um triunfo da direita, os movimentos populares e a esquerda no seu conjunto, sem poupar ninguém, serão as principais vítimas de uma direita fortalecida.

Serra, o privatizador, quer privatizar o Pré-Sal. O resto é trololó

Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira

EDUCAÇÃO - O BRASIL NO RUMO CERTO
Da pré-escola ao pós-doutoramento - ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.
Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.
Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.
Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.
Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.
*Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)*
*José Weber Freire Macedo - Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)*
*Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)*
*Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
*Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)*
*Malvina Tânia Tuttman - Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)*
*Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)*
*Maria Beatriz Luce - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)*
*Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)*
*Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)*
*Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)*
*Miguel Badenes P. Filho - Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)*
*Carlos Eduardo Cantarelli - Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)*
*Miriam da Costa Oliveira - Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)*
*Célia Maria da Silva Oliveira - Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)*
*Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)*
*Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)*
*Paulo Gabriel S. Nacif - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)*
*Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).*
*Pedro Angelo A. Abreu - Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)*
*Hélgio Trindade - Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)*
*Ricardo Motta Miranda - Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)*
*Hélio Waldman - Universidade Federal do ABC (UFABC)*
*Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)*
*Henrique Duque Chaves Filho - Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)*
*Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)*
*Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - (UFC)*
*Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)*
*João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande - (FURG)*
*Targino de Araújo Filho - Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)*
*José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)*
*Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)*
*José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)*
*Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)*
*José Seixas Lourenço - Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)*
*Virmondes Rodrigues Júnior - Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)*
*Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)*

sábado, 16 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Entenda como e por que Serra afundaria o Brasil na crise mundial

Do Cloaca News:

Não seria nada mau se eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias para conversar um pouco sobre o assunto exibido em um pequeno vídeo que fala sobre o presente e o futuro do país. Considerando a quantidade de baixarias que circula na internet e fora dela, esse vídeo é, como gosta de dizer nossa imprensa, uma bomba. Feita para pensar. E pensar é bom.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Calçada da lama I

A rua Canuto do Val, em São Paulo, é alvo de uma discórdia urbanística que, por vias indiretas, fez do escritor Oswald de Andrade um desafeto do cantor Nelson Gonçalves, e vice-versa. Um uspiano inspirado diria que, naquele logradouro, a repulsa às escleroses urbanas do primeiro chamou para a briga a boemia do segundo.

O?ringue em questão é um conjunto de bares e restaurantes que a empresária Lilian Gonçalves, de 62 anos, filha do intérprete de A?Volta do Boêmio e A?Deusa da Minha Rua, vem erguendo há trinta anos naquela rua do bairro de Santa Cecília. As tais escleroses contra as quais Oswald bradava no “Manifesto Antropófago” de 1928 se materializaram com o barulho dos bares, à noite, e das britadeiras, de dia.

Calçada da lama II

Os vizinhos reclamaram. Um deles, neto do escritor, Rudá K. Andrade, de 34 anos, na melhor tradição da família, produziu um manifesto?– no caso, contra a “calçada da lama”, apelido áspero dado ao projeto de calçada da fama que Lilian defende e promove na frente de seus estabelecimentos.

“Eu escrevi de raiva: o negócio está acontecendo aqui no meu nariz”, disse Rudá, que é cineasta e codirigiu o documentário Somos Todos Sacys. “Eu já não dormia de noite com o barulho dos bares, aí chegava de manhãzinha e tá-tá-tá-tá. Foi mais de um mês de britadeira. É insano.”

Como todo manifesto, o de Rudá prefere as labaredas da hipérbole à tranquilidade da ponderação. O?texto convoca os vizinhos a se organizarem contra “um verdadeiro pesadelo”, uma trincheira “mais barulhenta que as da Primeira Guerra Mundial”. A?fúria retórica se concentra na malsinada calçada, que comerá à rua 1,50 metro de largura, além de todas as vagas de estacionamento. É?o espaço vital para que se possa prestar homenagem a “Roberto Carlos, Jô Soares, Hebe Camargo e Silvio Santos, entre tantos merecedores desta honra”, como explica o site da Rede Biroska, nome do complexo comercial de Lilian.

A?assinatura de um legítimo Andrade deu um peso modernista ao movimento e às reivindicações da associação de moradores do bairro. Não que Lilian tenha atinado para esse detalhe histórico. Indômita, ela continuou avançando com suas estrelas sobre a Canuto do Val como quem ergue uma capital no meio do cerrado. A?imagem não é gratuita. Sua mãe era amiga de Oscar Niemeyer e Juscelino Kubitschek?– o arquiteto, um rematado boêmio, e o presidente, pé de valsa contumaz.

Como a filha de Nelson Gonçalves diz que passou parte da infância com jk, desconfia-se que tenha aprendido com ele lições meio tortas sobre como construir coisas. Se um presidente pôde espalhar asfalto e concreto por cima de pequis, por que não deveria uma rainha da noite alargar a calçada à lá Orestes Barbosa, pisar nos astros distraída?

Segundo Lilian, a calçada não é um projeto seu, embora se desenrole diante dos cinco bares e restaurantes que lhe pertencem na Canuto. (São eles: Bar do Nelson, Siga la Vaca, Frango com Tudo, Espetinho e Biroska, que dá nome à
rede. Nas suas paredes estão penduradas 4 500 fotos mostando Lilian.) “A?obra é do Kassab”, diz a empresária, jogando o mico no colo da prefeitura. De fato, não poderia haver obra mais municipal: a calçada da fama virou lei depois da aprovação de um projeto legislativo do vereador Paulo Frange, do ptb, um dos cassados no fim do ano passado por captação ilícita de recursos junto à Associação Imobiliária Brasileira (em maio, a Justiça Eleitoral paulista anulou a cassação).

A?prefeitura ficou responsável pelo alargamento da calçada e a alteração de meios-fios e sarjetas, a um custo de aproximadamente 70 mil reais. A Lilian caberá arcar com os cerca de 4 milhões do acabamento e da pavimentação do passeio, essencial para receber o chão de estrelas que celebra os “nossos ídolos”, nas palavras da empresária. Para que não restassem dúvidas quanto ao pedigree oficial da obra, as primeiras estrelas da calçada foram dedicadas ao então governador de São Paulo, José Serra, e ao ex-governador, Geraldo Alckmin.
Os paulistanos, ao que parece, levarão algum tempo antes de pisar nas estrelas. A?calçada começou a ser quebrada em setembro passado, abocanhou uma das faixas da rua de mão única, mas no momento encontra-se retalhada à espera de uma decisão judicial. A?obra foi embargada pelo Ministério Público um mês depois de seu início, a partir de uma ação de comerciantes do entorno. A?Rede Biroska entrou com um recurso, que foi negado em segunda instância. Agora, novo recurso, só na capital federal?– aquela de jk.

Lilian diz que não tem interesse em dar entrevista. “Não neste momento. Até a Hebe me chamou e eu não vou lá”, explicou. Deixa apenas escapar que o embargo é uma “bobeira” e que “já, já passa e nós ganhamos”.

Calçada da lama III

Tendo vencido os primeiros rounds, o neto de Oswald de Andrade e Pagu invoca o avô para dar substância intelectual a seu movimento. Oswald dizia-se “contra todos os importadores de consciência enlatada”, e Rudá assina embaixo. “Essa coisa da ‘fama’, tentando imitar Hollywood e ficar homenageando os já consagrados é o brega que tem no Brasil. Não é cultura popular, é o brega-chique. Os únicos homenageados ali eram o Serra, o Pelé, a Xuxa, o Roberto Carlos, o Sérgio Reis. E?ela defendia o negócio como um projeto cultural, tentando entrar num esquema de revitalizar o Centro.” Segundo o neto, o escritor teria grandes decepções com esta São Paulo que, felizmente, não conheceu. “Estaria puto com mil outras coisas. Ele morreu em 1954, e estaria perdido  aqui”, diz Rudá.

Mas quem pode saber o que se passa na cabeça dos poetas, principalmente os mortos? Afinal, o escritor é autor dos versos

Não permita Deus que eu morra

Sem que eu volte pra São Paulo

Sem que veja a rua 15

E?o progresso de São Paulo

Lilian não conhece o poema, mas poderia invocá-los, ao reagir com espanto à informação sobre a genealogia de Rudá: “E como é que ele, sendo neto do Osvaldo de Andrade”?– ela disse Osvaldo mesmo, usando a pronúncia correta?– “sabendo da falta de memória desse país, vai contra uma calçada da fama brasileira?”

Rudá não quer o fim dos bares, só da bagunça. “Queremos organizar”, diz. A?ruazinha modesta é uma paisagem de festa, mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira, aqueles do poema de Oswald, parecem estar dizendo: Deixa disso, Lilian/ Me dá um descanso.

sábado, 9 de outubro de 2010

XLIX - Do amor

Costuro o infinito sobre o peito.
E no entanto sou água fugidia e amarga.
E sou crível e antiga como aquilo que vês :
Pedras, frontões no Todo inamovível.
Terrena, me adivinho montanha algumas vezes.
Recente, inumana, inexprimível
Costuro o infinito sobre o peito
Como aqueles que amam.

Hilda Hilst

A Ostra

A ostra, do tamanho de um seixo mediano, tem uma aparência mais rugosa, uma cor menos uniforme, brilhantemente esbranquiçada. É um mundo recalcitrantemente fechado. Entretanto, pode-se abri-lo: é preciso então agarrá-la com um pano de prato, usar de uma faca pouco cortante, denteada, fazer várias tentativas. Os dedos curiosos ficam trinchados, as unhas se quebram: é um trabalho grosseiro. Os golpes que lhe são desferidos marcam de círculos brancos seu invólucro, como halos.
No interior encontra-se todo um mundo, de comer e de beber: sob um "firmamento" (propriamente falando) de madrepérola, os céus de cima se encurvam sobre os céus de baixo, para formar nada mais que um charco, um sachê viscoso e verdejante, que flui e reflui para a vista e o olfato, com franjas de renda negra nas bordas.
Por vezes mui raro uma fórmula peroliza em sua goela nácar, e alguém encontra logo com que se adornar.

Francis Ponge
(Trad: Ignácio Antonio Neis e Michel Peterson)

Fina Estampa

Una veredita alegre con luz de luna o de sol
Tendida como una cinta con sus lados de arreból
Arreból de los geranios y sonrisas con rubor
Arreból de los claveles y las mejillas en flor

Perfumada de magnolia rociada de mañanita
La veredita sonrie cuando tá piel la acaricia
Y la cuculi se enríe y la ventana se agita
Cuándo por esa vereda tu fina estampa pasea

Fina estampa caballero
Caballero de fina estampa
Un lucero que sonriera bajo um sombrero
No sonriera más hermoso
Ni más luciera caballero
En tu andar andar reluce la acera al andar andar

Te lleva hacia los zaguanes y a los pátios encantados
Te lleva hacia las plazuelas y a los amores soñados
Veredita que se arrulla con tafetanes bordados
Tacón de chapín de seda y justes almidonados

Es un caminito alegre con luz de luna o de sol
Que he de recorrer cantando por si te puede alcanzar
Fina estampa caballero quien te pudiera guardar

Fina estampa caballero
Caballero de fina estampa
Un lucero que sonriera bajo um sombrero
No sonriera más hermoso
Ni más luciera caballero
En tú andar andar reluce la acera al andar andar

Chabuca Granda

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

“Fui demitida por um ‘delito’ de opinião” I

Bob Fernandes, no Terra Magazine, dica do leitor Fernando

A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no último sábado (2), artigo sobre a “desqualificação” dos votos dos pobres. O texto, intitulado “Dois pesos…”, gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias.
Nesta quinta-feira (7), ela falou a Terra Magazine sobre as consequências do seu artigo e o motivo de sua demissão:
- Fui demitida pelo jornal o Estado de S. Paulo pelo que consideraram um “delito” de opinião (…) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?
Leia abaixo a entrevista.

Terra Magazine – Maria Rita, você escreveu um artigo no jornal O Estado de S.Paulo que levou a uma grande polêmica, em especial na internet, nas mídias sociais nos últimos dias. Em resumo, sobre a desqualificação dos votos dos pobres. Ao que se diz, o artigo teria provocado conseqüências para você…

Maria Rita Kehl – E provocou, sim…

- Quais?
- Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um “delito” de opinião.

- Quando?
- Fui comunicada ontem (quarta-feira, 6).

- E por qual motivo?
- O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram.

- Você chegou a argumentar algo?
- Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável…

“Fui demitida por um ‘delito’ de opinião” II



- Que sentimento fica para você?
- É tudo tão absurdo…a imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo…

- Você concorda com essa tese?
- Não, acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado…

- …Por outro lado…?
- Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um “delito” de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (Senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expos uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?

- Você imagina que isso tenha algo a ver com as eleições?
- Acho que sim. Isso se agravou com a eleição pois, pelo que eles me alegam agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas.

Maria Rita Kehl: Dois pesos…

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
 
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
 
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Maria Rita Kehl: Dois pesos… II

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

José Serra buscando apoio

Serra, em suas últimas tentativas para amenizar uma acachapante derrota ...

Que papelzinho !

Dois ratos de esgoto, como bem definido pelo Cloaca News.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Senador Arthur "Mike Tyson"



Para comemorar a derrota acachapante de Arthur Virgílio !

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Solidão

Na vida, quem perde o telhado
Em troca recebe as estrelas
Pra rimar até se afogar
E de soluço em soluço esperar
O sol que sobe na cama
E acende o lençol
Só lhe chamando
Solicitando

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua

O telefone chamou
Foi engano

Tom Zé

Gilmar Dantas

Do blog do Hariovaldo Almeida Prado:

O Excelso Tribuno dos Homens Bons no Supremo, Gilmar Dantas mais uma vez não se furta a defender a verdade e a decência frente às forças bolchevistas que lutam para implantar a sovietização do país através das vias ilícitas e imorais. Acontece que foi descoberto um plano comunista para fraudar as eleições através da substituição das pessoas de bem, eleitores de Serra, por agentes venezuelanos disfarçados, os quais votariam no lugar das pessoas sequestradas. Por isso, a única forma de impedi-los nesse plano maligno é através da exigência de um documento com foto na hora da votação, onde com a comparação da foto da pessoa com o agente chavista ficaria patente a fraude pois todos os elementos subversivos bolivarianos usam barba à la Fidel, diferentemente dos brasileiros, o que justifica a extrema necessidade da exigência.

Alertado a tempo por José Serra, Gilmar pode impedir que os demais membros de tão elevada corte caíssem no conto dos marxistas e suspendeu a votação para o bem do Brasil. Alvíssaras! É reconfortante saber que temos no STF um varão a altura do futuro presidente da nação, sempre pronto a atender nossos chamados na dura luta contra o comunismo petista que sempre ameaça o país.

Veja que mentira

Do Blog do Miro:

Na sua penúltima edição antes da eleição de domingo, dia 3, a revista Veja voltou à carga contra o governo Lula, com o objetivo de fustigar a candidata Dilma Rousseff e dar uma desesperada e derradeira forcinha ao tucano José Serra. Pela quarta semana consecutiva, a capa do panfleto teve tons terroristas. Ela mostra a estrela do PT rasgando os artigos da Constituição que tratam da liberdade de imprensa. Abaixo da forte imagem, a manchete garrafal: “Liberdade sob ataque”.

Nas três edições anteriores, ela repetiu à exaustão, nos títulos e “reporcagens”, a palavra polvo, acusando a esquerda de envolver o poder público com seus tentáculos - mas não disse nada sobre os fartos recursos públicos que recebeu do governo tucano de São Paulo. A revista destacou o caso do vazamento de sigilos fiscais, numa matéria requentada de setembro de 2009, e fez alarde com as denúncias contra a ministra Erenice Guerra. Nenhuma palavra sobre a quebra do sigilo de 60 milhões de brasileiros, patrocinada pelas filhas de José Serra e o do especulador Daniel Dantas.


Jô Soares criticando o "Cansei"



Relembremos o ridículo "Cansei": um movimento de direita, de ricos paulistanos, que se aproveitou do acidente da TAM (2007) para fazer o que chamaram de "política". Eis a turma, entre outros, que declarou  o movimento "apartidário" (será?): João Dória Jr, Luiz Flávio Borges D'Urso, Hebe, Ivete Sangalo, Regina Duarte, Ana Maria Braga, Paulo Zattolo. Este último, presidente da Philips no Brasil, afirmou: "Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Fizeram passeata. Gritaramm "Fora Lula". Cantaram, timidamente, "Pra não dizer que não falei das flores". É o non sense total da elite branca paulistana. Serra os representa, mas a sua barca naufraga dia após dia.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vox desmoraliza o Datafolha

 Do "Conversa Afiada":

Há 28 dias o Tracking diário da Vox Populi mostra que a Dilma continua no mesmo lugar. Essa posição lhe garante uma vitória no primeiro turno.

O Tracking de hoje da Vox Populi tem uma mudança irrelevante: o Serra ganhou um ponto e Bláblárina Silva perdeu um ponto. Ou seja, a “onde verde” tem a consistência do discurso da Bláblárina contra Darwin e a pesquisa com células-tronco. O Tracking da Vox Populi ouve 500 pessoas diferentes por dia. A Vox Populi, supõe-se, que faça outras pesquisas para partidos com amostras maiores e outras pesquisas em alguns Estados cruciais com amostras também diferentes.

Portanto, como o Marcos Coimbra, responsável pela Vox, é um profissional respeitado de estrutura intelectual que dá de 10 a 0 nos congêneres do Datafalha e do Globope, se houvesse discrepância entre as diferentes pesquisas ele não divulgaria o Tracking. O problema é que no Brasil, antes da Ley de Medios, é possível o jornal nacional é possível divulgar o Globope e o Datafalha e omitir a Vox e a Sensus, ambas de Minas, a terra da Inconfidência.

Só o Ali Kamel e uma testemunha bomba, como o sequestrador do Abílio Diniz aparecer com a camisa da Dilma, poderá alterar essa eleição. Nem o Ali Kamel, o mais poderoso jornalistas que jamais trabalhou na Globo, conseguirá manipular uma eleição que tem como marionetes o jenio e a Bláblárina Silva.

Com esses dois, nem o Ali Kamel multiplica os pães.

Serra e os professores

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aríetes

Alguns dos raros leitores comentaram o engajamento dos paluchiados deste, digamos assim, singelo blog. Nervos acirrados, três de outubro mostrará alguns dos rumos a seguir. As palavras, no entanto, seguem em seu processo de empobrecimento. São vilipendiadas todos os dias. O exercício da democracia e o papel da imprensa são torneados por nebulosos embustes. Do que se fala, há de se tirar a casca que embeleza, mas aboleta interesses vários. Este blog seria sujo, não fosse movido pela mera pretensão do exercício. Pensar sobre o pensamento. Tirar ensinamentos do que o pobre cotidiano nos murmura como ecos ou brisa do sublime. Penso em Esaú e Jacó. Nos dois lados da verdade, na multiplicidade da mentira. Quedo-me. Sei que é só exercício. Todavia, posicionar-se é preciso. Se é acerto, o tempo dirá, ao compor nossos destinos. Vou para  onde a sensibilidade aponta. Sem falseios. Sem carroças desgovernadas dentro de mim. Sei que amanhã será outro dia. Precioso mais que tudo, além da vida imediata. Como um soco no coração, quero provar do fruto crédulo das semeaduras.

domingo, 26 de setembro de 2010

Eu e as flores

Quando eu passo
perto das flores
quase elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim
(...)

"Eu e as flores", Nelson Cavaquinho

Nova Luz

(...) pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e ao desamparo, acender uma luz qualquer. Uma luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens.
_____
GULLAR, Ferreira. Sobre arte, sobre poesia (uma luz do chão). Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Carinhoso

É Primavera

Serra e a imprensa

Zé Chirico

 CLOACA NEWS:


Aqui entre nós: se essas histórias do Zé Chirico prometer salário mínimo de R$ 600 ,“dar aumento de 10%” para os aposentados e criar o décimo-terceiro do Bolsa-Família fossem sérias, e fizessem parte das diretrizes de um plano de governo, elas estariam sendo apresentadas aos eleitores desde o início da campanha – e não apenas a duas semanas das eleições, de maneira desesperada, como está acontecendo. Simples assim.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Carta Capital entrevista Hildegard Angel I

Enquanto seu irmão Stuart era preso e morto pela ditadura, em 1971, a jovem Hildegard Angel iniciava trajetória oposta, atuando no colunismo social do jornal O Globo, onde trabalharia, entre idas e vindas, por quase 40 anos. Em 1976, quando a mãe dos dois, a estilista Zuzu, foi assassinada pelo regime em um acidente de carro, Hildegard já era uma jornalista conhecida e atriz de TV. Não deixa de ser interessante que, aos 60, recém-saída do extinto Jornal do Brasil (agora só online), Hilde assuma uma postura de franco-atiradora.

CC entrevista Hildegard Angel II

Suas armas são um blog e o Twitter. Seus alvos: a mídia e a preferência pelo candidato José Serra, do PSDB _no mês passado, ela declarou voto em Dilma Rousseff, do PT. Na entrevista concedida a CartaCapital em sua cobertura de frente para o mar em Copacabana, Hildegard Angel, criadora do termo “emergente” para definir os novos ricos cariocas, diz que Lula sofre preconceito por ser um deles, na política. “Já o Serra é o valoroso self-made man”, ironiza.

CartaCapital – Por que a sra. decidiu apoiar Dilma Rousseff?
Hildegard Angel - Ela estava sendo tão massacrada que achei ser o momento de me posicionar. Era um bombardeio de e-mails, de sobrenomes coroadíssimos, atacando a Dilma. Começaram denegrindo pelo físico, que ela era feia, horrorosa, megera, medonha. Aí ela ficou bonita e não puderam mais falar. Então começaram a atacar a parte moral, que ela é assassina, terrorista, ladra. Isso é um reflexo da impunidade. Enquanto não colocarmos nos devidos lugares os que foram responsáveis pelas atrocidades da ditadura eles vão se sentir no direito de forjar uma realidade inexistente, de denegrir nossos mártires, nossos heróis.

CC – Antes desta eleição, a senhora já tinha se posicionado politicamente?
HA –
Não. Em nível nacional é a primeira vez. E acho que meu depoimento, e o almoço que a Lily Marinho (viúva de roberto Marinho) promoveu, romperam o círculo demonizante erguido em torno da Dilma. Ali fez-se uma fissura. A classe alta pensante, os ricos mais liberais, se permitiram uma abertura.

CC – D. Lily Marinho apoia Dilma?
HA –
A Lily passou a apoiar a Dilma depois que a conheceu. Quando ela fez o almoço para a Dilma, estava agindo como a mulher do Roberto Marinho, que está acima do bem e do mal e que pode se dar ao luxo de receber quem bem entende. Mas a Dilma conquistou a Lily. Antes do almoço, podia até haver a idéia de receber também os outros candidatos. Depois, não havia mais.

CC – Houve reação dos filhos de Roberto Marinho pela madrasta ter recebido a candidata do PT?
HA -
A Lily tem uma relação tão harmoniosa, tão respeitosa com eles, que acho que jamais teriam qualquer tipo de reação. O jornal e toda a organização têm sido muito duros com a Dilma, mas a única matéria positiva sobre ela até hoje em O Globo, da primeira até a última palavra, foi a do almoço com a Lily.

CC – Há quatro anos o ex-prefeito de São Paulo Claudio Lembo fez uma crítica, surpreendente para alguém do DEM, contra a elite branca. A sra. acha que falava só da paulistana ou da carioca também?
HA –
Da elite brasileira como um todo. É uma elite preconceituosa, que tem seus valores, seus princípios, e acha muito difícil abrir mão de suas convicções.

CC entrevista Hildegard Angel III

CC – Que tipo de rico tem preconceito com Lula?
HA -
O rico do passado, da herança, do aluguel, muito apegado a tradições, a sobrenome. É uma elite na maioria não produtiva, porque a elite produtiva, o homem que emprega, que gera progresso, desenvolvimento, não deixa de aplaudir o Lula. Mas às vezes a mulher deste homem não aplaude… Diplomatas aposentados também têm preconceito com Lula. O Itamaraty sempre foi o filé mignon do serviço público brasileiro, pela cultura, pela erudição, pelo savoir faire. E a política externa atual vai na contramão disso tudo. Esse é um segmento social que rejeita o Lula, o dos punhos de renda.

CC – Nos círculos que frequenta, ainda há gente que faz piada com a origem humilde de Lula?
HA -
O vaivém dos e-mails de gente da classe A contra o Lula é de uma variedade enorme…. Por exemplo: as festas caipiras do Lula incomodaram muito. Já a Zuzu Angel sempre viu uma beleza extraordinária na caipirice, tanto que foi a primeira a usar as rendas do Norte, a misturar com organza, a usar as chitas, hoje tão na moda. Minha mãe tinha uma frase: a moda brasileira só será internacional se for legítima. Por isso foi a primeira a ter penetração no exterior. De certa forma, o Lula, com as festas caipiras dele, fez o que a Zuzu fez em 1960 com a moda caipira dela.
CC – Serra também tem origem humilde. Por que não existe este preconceito com ele?
HA -
Porque o perfil do Lula se adequa mais ao do emergente. O do Serra é o do valoroso self made man… O Serra, para ser o homem que é, teve de dominar os códigos da elite, pelo estudo, pela convivência com pessoas intelectualmente superiores. Já o Lula foi abrindo caminho na base da cotovelada. E, de certa maneira, se manteve fiel à sua raça. Não se transformou com a ascensão, não se desligou, guardou seu ranço de pobreza, a memória do sofrimento. Isso o tornou mais sensível.

CC – E por outro lado o faz ser malvisto?

HA -
Sim, porque nunca será um igual e nem faz questão. A dona Marisa Letícia nunca abriu seus salões. Durante o governo FHC, fui inúmeras vezes convidada para recepções no Itamaraty e, em governos anteriores, até no Palácio da Alvorada. No governo Lula só fui convidada uma vez, para o Itamaraty. Black-tie nunca existiu. Isso cria uma limitação de trânsito social. Não há uma interação para esta sociedade se inserir dentro de uma linguagem que não seja de gabinete junto à família Lula. Talvez ele não se sentisse confortável fazendo isso, não é sua praia.
CC – Ainda tem muito preconceito de classe no Brasil?
HA -
Cada vez menos, mas tem. O que Lula sofre é preconceito de classe, mas está sendo superado por ele mesmo. Essa possível vitória da Dilma mostra que não é só o povão, não é são só aqueles que melhoraram de situação. Tem muito rico pensando diferente, saindo do casulo, desse gueto de pensamento.

CC – O interessante é que o dinheiro também tem de ser bem-nascido. De padaria, de marmita, não é dinheiro “bom”.

HA -
O dinheiro do comércio sempre foi visto no Brasil como um dinheiro sem base cultural, de origem ruim. Já o dinheiro da indústria, da área financeira, era “digno”. Agora, com a falta generalizada de dinheiro no meio dos que eram muito ricos, essas pessoas deste dinheiro de origem menos nobre conseguiram uma posição de respeitabilidade no ambiente social.

CC – Os emergentes são mais respeitados?
HA –
São mais aceitos, embora o verdadeiro emergente não esteja mais preocupado com isso. O verdadeiro emergente não tem aquelas veleidades do nouveau riche de antigamente. O nouveau riche de ontem queria entrar para o soçaite, que seus filhos estudassem com os filhos do soçaite, tinham aquela visão encantada da alta sociedade. O emergente de hoje tem mais noção do seu poder, não é tão submisso. Com o empobrecimento do rico tradicional, o rico do dinheiro novo se achou numa posição de não precisar fazer tanto a corte a essas pessoas.

CC – O dinheiro de Eike Batista, por exemplo, é “nobre”?
HA –
Culturalmente falando, sim. Ele é filho de Eliezer Batista, que tinha grande status no país há muitas décadas. O que acontece é que o Eike sabe muito bem o que quer. Gosta de esporte, de mulher bonita, dos filhos e do trabalho dele. Sua vida é um retrato disso. Tem um carro espetacular de corrida na sala, tem casa decorada com troféus das suas lanchas. Ele poderia ter um Picasso, mas não é aquele rico tradicional. Nós temos no país essa classe da riqueza envergonhada, que não tem muito como explicar o seu dinheiro, da riqueza escondida, que não pode ser fotografada… E o Eike, como tudo dele, acredito, seja declarado lá no imposto, pode expor seu dinheiro. Ele é o rico da riqueza assumida.

CC entrevista Hildegard Angel IV

CC – O jornalista Mauricio Stycer estudou a coluna de César Giobbi no Estadão em 2002, quando Lula se candidatou pela primeira vez, e concluiu que o colunista fez campanha disfarçada para Serra. Isso é comum?

HA -
Ah, a Miriam Leitão também faz… É comum o colunista ter afinidade com o veículo e ter uma linha de raciocínio que vai de encontro à dele e ao meio em que convive. O Giobbi é uma pessoa estimadíssima na alta sociedade paulistana, não é visto nem como jornalista, é visto como um da turma. A Monica Bergamo (da Folha) não é vista como uma da turma. O Giobbi é um do time, então raciocina de acordo com seu time.

CC – O colunista social no Brasil sempre é de direita?
HA -
Não, os colunistas têm a posição dos seus jornais. Tenho o privilégio que nem a posição do meu jornal eu tinha. O JB se manteve fazendo um jornalismo bem tucano até seis meses atrás, mas eu mantive minha independência e o jornal me deu essa liberdade, o que não é comum.

CC – Dos colunistas sociais clássicos, como Ibrahim Sued, tinha algum que era mais de esquerda?
HA -
O Zózimo (Barrozo do Amaral) era visto à esquerda, mas era muito discreto, eu nunca o vi se posicionar ostensivamente na contramão do seu grupo social. Isso não existe. Havia na época uma coisa charmosa, atraente, um esquerdismo light, fazia parte do put together da elegância.

CC – A sra. teve uma trajetória bem diferente do seu irmão Stuart. Era a burguesa da família?
HA –
Não, era a caçula. A sobrevivente. Eu era atriz de teatro e passei a ter uma atividade paralela, o jornalismo, que acabou se sobrepondo à atividade artística. Até porque quando entramos no processo das comédias ligeiras em decorrência da censura, não vi mais graça. Não sei se houve algum componente psicológico nisso, mas um mês depois da morte de minha mãe,  não renovei mais o contrato. Estava em cartaz com uma comédia de grande sucesso, “Bonifácio Bilhões”, com Lima Duarte e Armando Bogus. Não me aproximei mais do teatro, já estava com minha carreira encaminhada para o jornalismo. De repente me vi sem mãe, sem irmão, sem irmã (enviada para a França), meu pai morando no interior com outra família. Eu era a Angel que ficou para sobreviver, na atividade que sabia fazer, o jornalismo social, mas isso me custou o preço de eu ter de me calar e nem sequer refletir. Quando se vive num processo de muito medo você não reflete, só sobrevive. Eu consegui sobreviver tão bem que hoje eu falo. E vejo pessoas que deveriam estar falando, caladas.

CC – Outro dia a sra. falou no twitter que acha que a filha de Serra, Verônica, deveria abrir o sigilo fiscal para acabar com as dúvidas.
HA –
Não só a filha do Serra, todo homem público no país e seus parentes próximos deveriam tomar a iniciativa de abrir seu imposto de renda, sua evolução patrimonial. Deveria ser lei, uma obrigação ética, moral. Causa estranheza a gente ver figuras políticas carimbadas de um dia para outro mudarem de casa, de bairro, de status, de carro, de avião, sem ter uma história profissional que justifique isso. Devia partir deles, desses homens que se dizem honrados, fazer esse gesto. Por isso acho esse escândalo pífio.