segunda-feira, 23 de junho de 2008

Corona

Da minha mão o outono come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo volta à casca.

No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca fala a verdade.

Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio-sangue da lua.

Ficamos entrelaçados à janela, eles nos olham da
[rua:
está na hora de saber!
Está na hora da pedra começar a florescer,
de um coração golpear a inquietude.
está na hora de ser hora.

Está na hora.

CELAN, Paul. "Ópio e Memória". In: Cristal. Tradução de Claudia Cavalcanti. São Paulo: Ed. Iluminuras, 1999.

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