quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Solidão

Na vida, quem perde o telhado
Em troca recebe as estrelas
Pra rimar até se afogar
E de soluço em soluço esperar
O sol que sobe na cama
E acende o lençol
Só lhe chamando
Solicitando

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua

O telefone chamou
Foi engano

Tom Zé

Gilmar Dantas

Do blog do Hariovaldo Almeida Prado:

O Excelso Tribuno dos Homens Bons no Supremo, Gilmar Dantas mais uma vez não se furta a defender a verdade e a decência frente às forças bolchevistas que lutam para implantar a sovietização do país através das vias ilícitas e imorais. Acontece que foi descoberto um plano comunista para fraudar as eleições através da substituição das pessoas de bem, eleitores de Serra, por agentes venezuelanos disfarçados, os quais votariam no lugar das pessoas sequestradas. Por isso, a única forma de impedi-los nesse plano maligno é através da exigência de um documento com foto na hora da votação, onde com a comparação da foto da pessoa com o agente chavista ficaria patente a fraude pois todos os elementos subversivos bolivarianos usam barba à la Fidel, diferentemente dos brasileiros, o que justifica a extrema necessidade da exigência.

Alertado a tempo por José Serra, Gilmar pode impedir que os demais membros de tão elevada corte caíssem no conto dos marxistas e suspendeu a votação para o bem do Brasil. Alvíssaras! É reconfortante saber que temos no STF um varão a altura do futuro presidente da nação, sempre pronto a atender nossos chamados na dura luta contra o comunismo petista que sempre ameaça o país.

Veja que mentira

Do Blog do Miro:

Na sua penúltima edição antes da eleição de domingo, dia 3, a revista Veja voltou à carga contra o governo Lula, com o objetivo de fustigar a candidata Dilma Rousseff e dar uma desesperada e derradeira forcinha ao tucano José Serra. Pela quarta semana consecutiva, a capa do panfleto teve tons terroristas. Ela mostra a estrela do PT rasgando os artigos da Constituição que tratam da liberdade de imprensa. Abaixo da forte imagem, a manchete garrafal: “Liberdade sob ataque”.

Nas três edições anteriores, ela repetiu à exaustão, nos títulos e “reporcagens”, a palavra polvo, acusando a esquerda de envolver o poder público com seus tentáculos - mas não disse nada sobre os fartos recursos públicos que recebeu do governo tucano de São Paulo. A revista destacou o caso do vazamento de sigilos fiscais, numa matéria requentada de setembro de 2009, e fez alarde com as denúncias contra a ministra Erenice Guerra. Nenhuma palavra sobre a quebra do sigilo de 60 milhões de brasileiros, patrocinada pelas filhas de José Serra e o do especulador Daniel Dantas.


Jô Soares criticando o "Cansei"



Relembremos o ridículo "Cansei": um movimento de direita, de ricos paulistanos, que se aproveitou do acidente da TAM (2007) para fazer o que chamaram de "política". Eis a turma, entre outros, que declarou  o movimento "apartidário" (será?): João Dória Jr, Luiz Flávio Borges D'Urso, Hebe, Ivete Sangalo, Regina Duarte, Ana Maria Braga, Paulo Zattolo. Este último, presidente da Philips no Brasil, afirmou: "Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Fizeram passeata. Gritaramm "Fora Lula". Cantaram, timidamente, "Pra não dizer que não falei das flores". É o non sense total da elite branca paulistana. Serra os representa, mas a sua barca naufraga dia após dia.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vox desmoraliza o Datafolha

 Do "Conversa Afiada":

Há 28 dias o Tracking diário da Vox Populi mostra que a Dilma continua no mesmo lugar. Essa posição lhe garante uma vitória no primeiro turno.

O Tracking de hoje da Vox Populi tem uma mudança irrelevante: o Serra ganhou um ponto e Bláblárina Silva perdeu um ponto. Ou seja, a “onde verde” tem a consistência do discurso da Bláblárina contra Darwin e a pesquisa com células-tronco. O Tracking da Vox Populi ouve 500 pessoas diferentes por dia. A Vox Populi, supõe-se, que faça outras pesquisas para partidos com amostras maiores e outras pesquisas em alguns Estados cruciais com amostras também diferentes.

Portanto, como o Marcos Coimbra, responsável pela Vox, é um profissional respeitado de estrutura intelectual que dá de 10 a 0 nos congêneres do Datafalha e do Globope, se houvesse discrepância entre as diferentes pesquisas ele não divulgaria o Tracking. O problema é que no Brasil, antes da Ley de Medios, é possível o jornal nacional é possível divulgar o Globope e o Datafalha e omitir a Vox e a Sensus, ambas de Minas, a terra da Inconfidência.

Só o Ali Kamel e uma testemunha bomba, como o sequestrador do Abílio Diniz aparecer com a camisa da Dilma, poderá alterar essa eleição. Nem o Ali Kamel, o mais poderoso jornalistas que jamais trabalhou na Globo, conseguirá manipular uma eleição que tem como marionetes o jenio e a Bláblárina Silva.

Com esses dois, nem o Ali Kamel multiplica os pães.

Serra e os professores

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aríetes

Alguns dos raros leitores comentaram o engajamento dos paluchiados deste, digamos assim, singelo blog. Nervos acirrados, três de outubro mostrará alguns dos rumos a seguir. As palavras, no entanto, seguem em seu processo de empobrecimento. São vilipendiadas todos os dias. O exercício da democracia e o papel da imprensa são torneados por nebulosos embustes. Do que se fala, há de se tirar a casca que embeleza, mas aboleta interesses vários. Este blog seria sujo, não fosse movido pela mera pretensão do exercício. Pensar sobre o pensamento. Tirar ensinamentos do que o pobre cotidiano nos murmura como ecos ou brisa do sublime. Penso em Esaú e Jacó. Nos dois lados da verdade, na multiplicidade da mentira. Quedo-me. Sei que é só exercício. Todavia, posicionar-se é preciso. Se é acerto, o tempo dirá, ao compor nossos destinos. Vou para  onde a sensibilidade aponta. Sem falseios. Sem carroças desgovernadas dentro de mim. Sei que amanhã será outro dia. Precioso mais que tudo, além da vida imediata. Como um soco no coração, quero provar do fruto crédulo das semeaduras.

domingo, 26 de setembro de 2010

Eu e as flores

Quando eu passo
perto das flores
quase elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim
(...)

"Eu e as flores", Nelson Cavaquinho

Nova Luz

(...) pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e ao desamparo, acender uma luz qualquer. Uma luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens.
_____
GULLAR, Ferreira. Sobre arte, sobre poesia (uma luz do chão). Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Carinhoso

É Primavera

Serra e a imprensa

Zé Chirico

 CLOACA NEWS:


Aqui entre nós: se essas histórias do Zé Chirico prometer salário mínimo de R$ 600 ,“dar aumento de 10%” para os aposentados e criar o décimo-terceiro do Bolsa-Família fossem sérias, e fizessem parte das diretrizes de um plano de governo, elas estariam sendo apresentadas aos eleitores desde o início da campanha – e não apenas a duas semanas das eleições, de maneira desesperada, como está acontecendo. Simples assim.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Carta Capital entrevista Hildegard Angel I

Enquanto seu irmão Stuart era preso e morto pela ditadura, em 1971, a jovem Hildegard Angel iniciava trajetória oposta, atuando no colunismo social do jornal O Globo, onde trabalharia, entre idas e vindas, por quase 40 anos. Em 1976, quando a mãe dos dois, a estilista Zuzu, foi assassinada pelo regime em um acidente de carro, Hildegard já era uma jornalista conhecida e atriz de TV. Não deixa de ser interessante que, aos 60, recém-saída do extinto Jornal do Brasil (agora só online), Hilde assuma uma postura de franco-atiradora.

CC entrevista Hildegard Angel II

Suas armas são um blog e o Twitter. Seus alvos: a mídia e a preferência pelo candidato José Serra, do PSDB _no mês passado, ela declarou voto em Dilma Rousseff, do PT. Na entrevista concedida a CartaCapital em sua cobertura de frente para o mar em Copacabana, Hildegard Angel, criadora do termo “emergente” para definir os novos ricos cariocas, diz que Lula sofre preconceito por ser um deles, na política. “Já o Serra é o valoroso self-made man”, ironiza.

CartaCapital – Por que a sra. decidiu apoiar Dilma Rousseff?
Hildegard Angel - Ela estava sendo tão massacrada que achei ser o momento de me posicionar. Era um bombardeio de e-mails, de sobrenomes coroadíssimos, atacando a Dilma. Começaram denegrindo pelo físico, que ela era feia, horrorosa, megera, medonha. Aí ela ficou bonita e não puderam mais falar. Então começaram a atacar a parte moral, que ela é assassina, terrorista, ladra. Isso é um reflexo da impunidade. Enquanto não colocarmos nos devidos lugares os que foram responsáveis pelas atrocidades da ditadura eles vão se sentir no direito de forjar uma realidade inexistente, de denegrir nossos mártires, nossos heróis.

CC – Antes desta eleição, a senhora já tinha se posicionado politicamente?
HA –
Não. Em nível nacional é a primeira vez. E acho que meu depoimento, e o almoço que a Lily Marinho (viúva de roberto Marinho) promoveu, romperam o círculo demonizante erguido em torno da Dilma. Ali fez-se uma fissura. A classe alta pensante, os ricos mais liberais, se permitiram uma abertura.

CC – D. Lily Marinho apoia Dilma?
HA –
A Lily passou a apoiar a Dilma depois que a conheceu. Quando ela fez o almoço para a Dilma, estava agindo como a mulher do Roberto Marinho, que está acima do bem e do mal e que pode se dar ao luxo de receber quem bem entende. Mas a Dilma conquistou a Lily. Antes do almoço, podia até haver a idéia de receber também os outros candidatos. Depois, não havia mais.

CC – Houve reação dos filhos de Roberto Marinho pela madrasta ter recebido a candidata do PT?
HA -
A Lily tem uma relação tão harmoniosa, tão respeitosa com eles, que acho que jamais teriam qualquer tipo de reação. O jornal e toda a organização têm sido muito duros com a Dilma, mas a única matéria positiva sobre ela até hoje em O Globo, da primeira até a última palavra, foi a do almoço com a Lily.

CC – Há quatro anos o ex-prefeito de São Paulo Claudio Lembo fez uma crítica, surpreendente para alguém do DEM, contra a elite branca. A sra. acha que falava só da paulistana ou da carioca também?
HA –
Da elite brasileira como um todo. É uma elite preconceituosa, que tem seus valores, seus princípios, e acha muito difícil abrir mão de suas convicções.

CC entrevista Hildegard Angel III

CC – Que tipo de rico tem preconceito com Lula?
HA -
O rico do passado, da herança, do aluguel, muito apegado a tradições, a sobrenome. É uma elite na maioria não produtiva, porque a elite produtiva, o homem que emprega, que gera progresso, desenvolvimento, não deixa de aplaudir o Lula. Mas às vezes a mulher deste homem não aplaude… Diplomatas aposentados também têm preconceito com Lula. O Itamaraty sempre foi o filé mignon do serviço público brasileiro, pela cultura, pela erudição, pelo savoir faire. E a política externa atual vai na contramão disso tudo. Esse é um segmento social que rejeita o Lula, o dos punhos de renda.

CC – Nos círculos que frequenta, ainda há gente que faz piada com a origem humilde de Lula?
HA -
O vaivém dos e-mails de gente da classe A contra o Lula é de uma variedade enorme…. Por exemplo: as festas caipiras do Lula incomodaram muito. Já a Zuzu Angel sempre viu uma beleza extraordinária na caipirice, tanto que foi a primeira a usar as rendas do Norte, a misturar com organza, a usar as chitas, hoje tão na moda. Minha mãe tinha uma frase: a moda brasileira só será internacional se for legítima. Por isso foi a primeira a ter penetração no exterior. De certa forma, o Lula, com as festas caipiras dele, fez o que a Zuzu fez em 1960 com a moda caipira dela.
CC – Serra também tem origem humilde. Por que não existe este preconceito com ele?
HA -
Porque o perfil do Lula se adequa mais ao do emergente. O do Serra é o do valoroso self made man… O Serra, para ser o homem que é, teve de dominar os códigos da elite, pelo estudo, pela convivência com pessoas intelectualmente superiores. Já o Lula foi abrindo caminho na base da cotovelada. E, de certa maneira, se manteve fiel à sua raça. Não se transformou com a ascensão, não se desligou, guardou seu ranço de pobreza, a memória do sofrimento. Isso o tornou mais sensível.

CC – E por outro lado o faz ser malvisto?

HA -
Sim, porque nunca será um igual e nem faz questão. A dona Marisa Letícia nunca abriu seus salões. Durante o governo FHC, fui inúmeras vezes convidada para recepções no Itamaraty e, em governos anteriores, até no Palácio da Alvorada. No governo Lula só fui convidada uma vez, para o Itamaraty. Black-tie nunca existiu. Isso cria uma limitação de trânsito social. Não há uma interação para esta sociedade se inserir dentro de uma linguagem que não seja de gabinete junto à família Lula. Talvez ele não se sentisse confortável fazendo isso, não é sua praia.
CC – Ainda tem muito preconceito de classe no Brasil?
HA -
Cada vez menos, mas tem. O que Lula sofre é preconceito de classe, mas está sendo superado por ele mesmo. Essa possível vitória da Dilma mostra que não é só o povão, não é são só aqueles que melhoraram de situação. Tem muito rico pensando diferente, saindo do casulo, desse gueto de pensamento.

CC – O interessante é que o dinheiro também tem de ser bem-nascido. De padaria, de marmita, não é dinheiro “bom”.

HA -
O dinheiro do comércio sempre foi visto no Brasil como um dinheiro sem base cultural, de origem ruim. Já o dinheiro da indústria, da área financeira, era “digno”. Agora, com a falta generalizada de dinheiro no meio dos que eram muito ricos, essas pessoas deste dinheiro de origem menos nobre conseguiram uma posição de respeitabilidade no ambiente social.

CC – Os emergentes são mais respeitados?
HA –
São mais aceitos, embora o verdadeiro emergente não esteja mais preocupado com isso. O verdadeiro emergente não tem aquelas veleidades do nouveau riche de antigamente. O nouveau riche de ontem queria entrar para o soçaite, que seus filhos estudassem com os filhos do soçaite, tinham aquela visão encantada da alta sociedade. O emergente de hoje tem mais noção do seu poder, não é tão submisso. Com o empobrecimento do rico tradicional, o rico do dinheiro novo se achou numa posição de não precisar fazer tanto a corte a essas pessoas.

CC – O dinheiro de Eike Batista, por exemplo, é “nobre”?
HA –
Culturalmente falando, sim. Ele é filho de Eliezer Batista, que tinha grande status no país há muitas décadas. O que acontece é que o Eike sabe muito bem o que quer. Gosta de esporte, de mulher bonita, dos filhos e do trabalho dele. Sua vida é um retrato disso. Tem um carro espetacular de corrida na sala, tem casa decorada com troféus das suas lanchas. Ele poderia ter um Picasso, mas não é aquele rico tradicional. Nós temos no país essa classe da riqueza envergonhada, que não tem muito como explicar o seu dinheiro, da riqueza escondida, que não pode ser fotografada… E o Eike, como tudo dele, acredito, seja declarado lá no imposto, pode expor seu dinheiro. Ele é o rico da riqueza assumida.

CC entrevista Hildegard Angel IV

CC – O jornalista Mauricio Stycer estudou a coluna de César Giobbi no Estadão em 2002, quando Lula se candidatou pela primeira vez, e concluiu que o colunista fez campanha disfarçada para Serra. Isso é comum?

HA -
Ah, a Miriam Leitão também faz… É comum o colunista ter afinidade com o veículo e ter uma linha de raciocínio que vai de encontro à dele e ao meio em que convive. O Giobbi é uma pessoa estimadíssima na alta sociedade paulistana, não é visto nem como jornalista, é visto como um da turma. A Monica Bergamo (da Folha) não é vista como uma da turma. O Giobbi é um do time, então raciocina de acordo com seu time.

CC – O colunista social no Brasil sempre é de direita?
HA -
Não, os colunistas têm a posição dos seus jornais. Tenho o privilégio que nem a posição do meu jornal eu tinha. O JB se manteve fazendo um jornalismo bem tucano até seis meses atrás, mas eu mantive minha independência e o jornal me deu essa liberdade, o que não é comum.

CC – Dos colunistas sociais clássicos, como Ibrahim Sued, tinha algum que era mais de esquerda?
HA -
O Zózimo (Barrozo do Amaral) era visto à esquerda, mas era muito discreto, eu nunca o vi se posicionar ostensivamente na contramão do seu grupo social. Isso não existe. Havia na época uma coisa charmosa, atraente, um esquerdismo light, fazia parte do put together da elegância.

CC – A sra. teve uma trajetória bem diferente do seu irmão Stuart. Era a burguesa da família?
HA –
Não, era a caçula. A sobrevivente. Eu era atriz de teatro e passei a ter uma atividade paralela, o jornalismo, que acabou se sobrepondo à atividade artística. Até porque quando entramos no processo das comédias ligeiras em decorrência da censura, não vi mais graça. Não sei se houve algum componente psicológico nisso, mas um mês depois da morte de minha mãe,  não renovei mais o contrato. Estava em cartaz com uma comédia de grande sucesso, “Bonifácio Bilhões”, com Lima Duarte e Armando Bogus. Não me aproximei mais do teatro, já estava com minha carreira encaminhada para o jornalismo. De repente me vi sem mãe, sem irmão, sem irmã (enviada para a França), meu pai morando no interior com outra família. Eu era a Angel que ficou para sobreviver, na atividade que sabia fazer, o jornalismo social, mas isso me custou o preço de eu ter de me calar e nem sequer refletir. Quando se vive num processo de muito medo você não reflete, só sobrevive. Eu consegui sobreviver tão bem que hoje eu falo. E vejo pessoas que deveriam estar falando, caladas.

CC – Outro dia a sra. falou no twitter que acha que a filha de Serra, Verônica, deveria abrir o sigilo fiscal para acabar com as dúvidas.
HA –
Não só a filha do Serra, todo homem público no país e seus parentes próximos deveriam tomar a iniciativa de abrir seu imposto de renda, sua evolução patrimonial. Deveria ser lei, uma obrigação ética, moral. Causa estranheza a gente ver figuras políticas carimbadas de um dia para outro mudarem de casa, de bairro, de status, de carro, de avião, sem ter uma história profissional que justifique isso. Devia partir deles, desses homens que se dizem honrados, fazer esse gesto. Por isso acho esse escândalo pífio.

CC entrevista Hildegard Angel V

CC – A sra. também criticou na rede a passeata dos humoristas contra a “censura”. Por quê?
HA –
A passeata deles não era a favor do humor, era a favor do Serra, não era contra a censura, era contra o governo. Foi uma passeata que teve um defeito de origem: não esclarecer o real motivo do humor não estar liberado, que era um projeto dos deputados, não do governo ou do TSE. Ou seja, foi uma passeata ignorante que disseminava a ignorância. Quem faz humor político não pode ser ignorante, porque é o humor mais sofisticado que há. Além disso, vi no CQC eles fazendo humor de uma maneira muito grosseira com dona Marisa Letícia, dizendo que o Eike Batista tinha faturado ela e ia comprar uma coleira… Isso se diz da mulher do presidente da República? É comparável à ofensa que o Irã fez em relação a Carla Bruni. 

CC – Manifestar-se politicamente agora a recoloca mais no caminho do Stuart e da Zuzu?
HA –
Me sinto um pouco refém da coragem da minha família, é como se tivesse retomado meu curso. Como se cumprisse uma trajetória que estava ali me esperando, neste momento que as pessoas se acomodaram, que estão submetidas a seus empregos, todas colocadas na grande imprensa, com uma posição monocórdia, um pensamento único. Vou estar sendo dura e talvez injusta, mas é muito fácil ser herói quando isso lhe dá ibope. Difícil é ir contra a corrente quando isso vai pegar mal para você. Sou uma colunista social e meu patrimônio são as elites. Meu leitorado principal são as elites. Me surpreende e me enternece que elas me respeitem agora mais do que nunca.

CC – Pretende se tornar uma guerrilheira online?
HA –
Eu seria muito pretensiosa e desrespeitosa se de alguma maneira usasse essa qualificação de guerrilheira. Guerrilheiro foi meu irmão. Eu não fui. Estou tirando o atraso, só isso.

Nova Luz

Não se trata de um pós-guerra. Nem de omissão do Estado. Mas da atuação do governo demo-tucano. É  a Cracolândia, rebatizada através de uma ironia impassível e sarcástica com o nome de  "Nova Luz".  Luz  para quem mesmo?

Fascismo?



A campanha ganha ares odiosos. Baixaria, manipulação. A velha tática do medo disseminada por Collor e, infelizmente, reverberada na fala de Regina Duarte. O fim de Serra será triste. Assim como o do DEM. Assim como o de Dunga.

As novas viúvas do neoliberalismo

publicado na Folha de São Paulo em 09.09.2010


A queda do Muro de Berlim ainda deixa sequelas em gente que se dizia comunista. Parece que os tijolos que separavam dois mundos continuam desabando e provocando desorientação mental, política e ideológica. Com as pesquisas apontando vantagem da candidata do PT, crescem o desespero e as tentativas de manipulação e distorção da realidade. Prática do período stalinista que encontra espaço na atual oposição brasileira, que reúne tucanos, demos e antigos esquerdistas.

Só assim se explica o texto do ex-deputado Roberto Freire publicado nesta Folha (“Não ao “dedazo” de Lula”, 25/8), no qual abusa de uma retórica conservadora e incorpora o linguajar de parte da mídia e das cassandras que anunciam o fim da democracia no Brasil. Repete mantras da oposição, com a tentativa de colocar a eleição de Dilma como suposto risco à democracia, o “perigo” de instalação de “partido único” e a criação de “república sindical”. Isso relembra as bandeiras dos golpistas de 1964 e as vivandeiras de quartel. Ora, o processo de consolidação da democracia no Brasil relaciona-se com o papel da nova esquerda no Brasil e sua participação na construção do PT. Um partido surgido diante da incapacidade do PCB de criar uma perspectiva consistente de representação para os trabalhadores do Brasil.

Na origem, o PT se caracterizou pela adoção de métodos democráticos de organização, em contraposição ao velho e acomodado “peleguismo” e à burocracia sindical da qual o PCB era cliente. Com o PT, são três décadas de construção paulatina da democracia no Brasil, numa trajetória marcada por defesa dos direitos sociais, dos interesses nacionais, do desenvolvimento e da integração latino-americana. O tempo, os acertos táticos, a capacidade de elaboração e de articulação confirmaram a importância histórica do projeto do PT. No período, o PT refletiu e mudou, mas nunca mudou de lado, como mostram as conquistas do governo Lula.

O PT não é dono do movimento sindical, como diz o ex-comunista.

No país, há pelo menos seis centrais sindicais que disputam entre si a hegemonia do movimento. Nosso partido faz parte de um campo democrático e popular, com partidos de esquerda, do centro e até partes de legendas de direita, que, por sinal, foram acolhidas pela articulação política que ele defendia como aliado no Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo. 

Quando tucanos falavam que teriam três décadas de poder, o articulista não se preocupou com o teor mexicanizado da proposta. Diferentemente da visão míope da oposição, o Brasil se consolida como emergente democracia, com distribuição de renda, melhorias sociais e fortalecimento das instituições. Atuam com independência o Ministério Público, o Poder Judiciário e a máquina de Estado. Tristemente, parcela de um partido que um dia propôs transformações sociais hoje se tornou coadjuvante da direita brasileira. Transformou-se o velho PCB em sigla de aluguel, que atende pelo nome de PPS e passou a viver de sinecuras na burocracia do governo tucano.

É um fim melancólico das novas e recentes viúvas do neoliberalismo, que, incapazes de apresentar um projeto para o Brasil, se dedicam ao ofício de caluniar e difamar um governo bem-sucedido, que tem o apoio de esmagadora maioria da população e um reconhecimento internacional unânime. Está na hora do surgimento de uma oposição democrática no Brasil conduzida por pessoas mais qualificadas.

FERNANDO FERRO, 59, engenheiro eletricista, deputado federal pelo PT-PE e candidato a novo mandato, é líder do partido na Câmara dos Deputados e vice-presidente da Comissão de Energia e Minas do Parlamento Latino-Americano (Parlatino).

Lula no metrô de Paris











Brasil: o país onde a esquerda venceu. Aí, como sugeriu PHA, FHC corta os pulsos ...

A crise do Zé

Ora, ora

 Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 20 de março de 1964

A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da patria para defender a Constituição e os principios democraticos, dentro do mesmo espirito que ditou a Revolução de 32, originou ontem o maior movimento civico já observado em nosso Estado: a "Marcha da Familia com Deus, pela Liberdade". 

Com bandas de musica, bandeiras de todos os Estados, centenas de faixas e cartazes, numa cidade com ar festivo de feriado, a "Marcha" começou na praça da Republica e terminou na praça da Sé, que viveu um dos seus maiores dias. Meio milhão de homens, mulheres e jovens - sem preconceitos de cor, credo religioso ou posição social - foram mobilizados pelo acontecimento. Com "vivas" à democracia e à Constituição, mas vaiando os que consideram "traidores da patria", concentraram-se defronte da catedral e nas ruas proximas. 

Ali, oraram pelos destinos do país. E, através de diversas mensagens, dirigiram palavras de fé no Deus de todas as religiões e de confiança nos homens de boa-vontade. Mas, tambem de disposição para lutar, em todas as frentes, pelos principios que já exigiram o sangue dos paulistas para se firmarem.

(Do Blog de Luís Nassif)

Cidadão Boilesen

Assisti, na semana passada, com certo atraso, ao documentário "Cidadão Boilesen". Henning Boilesen, um dinamarquês radicado no Brasil nos anos 60, concentrava em si toda a complexidade do ser humano. Extrovertido, brincalhão, simpático, Boilesen tornou-se um alto executivo da Ultragaz no Brasil. Motivado por um sentimento anti-comunista, Boilesen se aproximou dos militares e, especialmente, da OBAN, a famosa Operação Bandeirante, que tinha como missão identificar e reprimir grupos de esquerda nos tempos sombrios de ditadura. Como se sabe, o DOI-CODI capturava, torturava e matava os chamados subversivos. Boilesen reunia com frequência um grupo de grandes empresários, banqueiros e industriais de São Paulo, para arrecadar verbas para as torturas da OBAN. Além disso, estava acostumado a participar diretamente das sessões de tortura. Inventou até uma máquina capaz de controlar, com teclados, a intensidade dos choques elétricos. Por isso mesmo, tornou-se alvo dos grupos de esquerda, e foi assassinado na Alameda Casa Branca em 1971. O documentário, muito interessante, por ouvir pessoas de "direita" e de "esquerda", terminologias que faziam sentido naquela época, fez-me refletir. Sobretudo, sobre o reacionarismo e conservadorismo de São Paulo. Muitos desses grandes industriais, banqueiros e empresários estão aí, comandando seus empreendimentos. Ou então, passaram o bastão para seus filhos. O conservadorismo vai se enraizando, ganhando espaço, entortando as espinhas dorsais, deixando muita gente cega. São Paulo, SAMPA, não é só a “comoção de minha vida”, como escreveu Mário de Andrade: tem dentro de si, um espírito reacionário que, como se vê, vem de longe.

Opiário

Segundo Alckmin, São Paulo vai bem. Na educação, na saúde, no transporte público, no combate ao crack. É uma maravilha a Pasárgada paulista. Ou seria Maracangalha?

Ilações

Soninha Francine, subprefeita da Lapa, disse que a pane no metrô de São Paulo é certamente uma espécie de "sabotagem" com fins eleitoreiros. Bom, é possível que a Dilma e gente do PT estivessem, de fato, no metrô às 7h da manhã e que, para desconstruir a imagem impoluta dos tucanos, tenham deixado uma blusa em uma das portas de algum vagão. Possível. Assusta-me, no entanto, o fato de que pessoas com razoável  esclarecimento se prestem a ilações tão precipitadas. Possível que alguém tenha, de propósito, "armado"  uma situação? De que podemos duvidar, se o ser humano é motivado por direções tão enviesadas e é sempre um grande mistério? Entretanto, inquieta-me esse tom de acusação, sem indício, sem  prova, sem nada.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010