quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Cidadão Boilesen

Assisti, na semana passada, com certo atraso, ao documentário "Cidadão Boilesen". Henning Boilesen, um dinamarquês radicado no Brasil nos anos 60, concentrava em si toda a complexidade do ser humano. Extrovertido, brincalhão, simpático, Boilesen tornou-se um alto executivo da Ultragaz no Brasil. Motivado por um sentimento anti-comunista, Boilesen se aproximou dos militares e, especialmente, da OBAN, a famosa Operação Bandeirante, que tinha como missão identificar e reprimir grupos de esquerda nos tempos sombrios de ditadura. Como se sabe, o DOI-CODI capturava, torturava e matava os chamados subversivos. Boilesen reunia com frequência um grupo de grandes empresários, banqueiros e industriais de São Paulo, para arrecadar verbas para as torturas da OBAN. Além disso, estava acostumado a participar diretamente das sessões de tortura. Inventou até uma máquina capaz de controlar, com teclados, a intensidade dos choques elétricos. Por isso mesmo, tornou-se alvo dos grupos de esquerda, e foi assassinado na Alameda Casa Branca em 1971. O documentário, muito interessante, por ouvir pessoas de "direita" e de "esquerda", terminologias que faziam sentido naquela época, fez-me refletir. Sobretudo, sobre o reacionarismo e conservadorismo de São Paulo. Muitos desses grandes industriais, banqueiros e empresários estão aí, comandando seus empreendimentos. Ou então, passaram o bastão para seus filhos. O conservadorismo vai se enraizando, ganhando espaço, entortando as espinhas dorsais, deixando muita gente cega. São Paulo, SAMPA, não é só a “comoção de minha vida”, como escreveu Mário de Andrade: tem dentro de si, um espírito reacionário que, como se vê, vem de longe.

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