quinta-feira, 23 de setembro de 2010

CC entrevista Hildegard Angel IV

CC – O jornalista Mauricio Stycer estudou a coluna de César Giobbi no Estadão em 2002, quando Lula se candidatou pela primeira vez, e concluiu que o colunista fez campanha disfarçada para Serra. Isso é comum?

HA -
Ah, a Miriam Leitão também faz… É comum o colunista ter afinidade com o veículo e ter uma linha de raciocínio que vai de encontro à dele e ao meio em que convive. O Giobbi é uma pessoa estimadíssima na alta sociedade paulistana, não é visto nem como jornalista, é visto como um da turma. A Monica Bergamo (da Folha) não é vista como uma da turma. O Giobbi é um do time, então raciocina de acordo com seu time.

CC – O colunista social no Brasil sempre é de direita?
HA -
Não, os colunistas têm a posição dos seus jornais. Tenho o privilégio que nem a posição do meu jornal eu tinha. O JB se manteve fazendo um jornalismo bem tucano até seis meses atrás, mas eu mantive minha independência e o jornal me deu essa liberdade, o que não é comum.

CC – Dos colunistas sociais clássicos, como Ibrahim Sued, tinha algum que era mais de esquerda?
HA -
O Zózimo (Barrozo do Amaral) era visto à esquerda, mas era muito discreto, eu nunca o vi se posicionar ostensivamente na contramão do seu grupo social. Isso não existe. Havia na época uma coisa charmosa, atraente, um esquerdismo light, fazia parte do put together da elegância.

CC – A sra. teve uma trajetória bem diferente do seu irmão Stuart. Era a burguesa da família?
HA –
Não, era a caçula. A sobrevivente. Eu era atriz de teatro e passei a ter uma atividade paralela, o jornalismo, que acabou se sobrepondo à atividade artística. Até porque quando entramos no processo das comédias ligeiras em decorrência da censura, não vi mais graça. Não sei se houve algum componente psicológico nisso, mas um mês depois da morte de minha mãe,  não renovei mais o contrato. Estava em cartaz com uma comédia de grande sucesso, “Bonifácio Bilhões”, com Lima Duarte e Armando Bogus. Não me aproximei mais do teatro, já estava com minha carreira encaminhada para o jornalismo. De repente me vi sem mãe, sem irmão, sem irmã (enviada para a França), meu pai morando no interior com outra família. Eu era a Angel que ficou para sobreviver, na atividade que sabia fazer, o jornalismo social, mas isso me custou o preço de eu ter de me calar e nem sequer refletir. Quando se vive num processo de muito medo você não reflete, só sobrevive. Eu consegui sobreviver tão bem que hoje eu falo. E vejo pessoas que deveriam estar falando, caladas.

CC – Outro dia a sra. falou no twitter que acha que a filha de Serra, Verônica, deveria abrir o sigilo fiscal para acabar com as dúvidas.
HA –
Não só a filha do Serra, todo homem público no país e seus parentes próximos deveriam tomar a iniciativa de abrir seu imposto de renda, sua evolução patrimonial. Deveria ser lei, uma obrigação ética, moral. Causa estranheza a gente ver figuras políticas carimbadas de um dia para outro mudarem de casa, de bairro, de status, de carro, de avião, sem ter uma história profissional que justifique isso. Devia partir deles, desses homens que se dizem honrados, fazer esse gesto. Por isso acho esse escândalo pífio.

Nenhum comentário: