terça-feira, 12 de outubro de 2010

Calçada da lama III

Tendo vencido os primeiros rounds, o neto de Oswald de Andrade e Pagu invoca o avô para dar substância intelectual a seu movimento. Oswald dizia-se “contra todos os importadores de consciência enlatada”, e Rudá assina embaixo. “Essa coisa da ‘fama’, tentando imitar Hollywood e ficar homenageando os já consagrados é o brega que tem no Brasil. Não é cultura popular, é o brega-chique. Os únicos homenageados ali eram o Serra, o Pelé, a Xuxa, o Roberto Carlos, o Sérgio Reis. E?ela defendia o negócio como um projeto cultural, tentando entrar num esquema de revitalizar o Centro.” Segundo o neto, o escritor teria grandes decepções com esta São Paulo que, felizmente, não conheceu. “Estaria puto com mil outras coisas. Ele morreu em 1954, e estaria perdido  aqui”, diz Rudá.

Mas quem pode saber o que se passa na cabeça dos poetas, principalmente os mortos? Afinal, o escritor é autor dos versos

Não permita Deus que eu morra

Sem que eu volte pra São Paulo

Sem que veja a rua 15

E?o progresso de São Paulo

Lilian não conhece o poema, mas poderia invocá-los, ao reagir com espanto à informação sobre a genealogia de Rudá: “E como é que ele, sendo neto do Osvaldo de Andrade”?– ela disse Osvaldo mesmo, usando a pronúncia correta?– “sabendo da falta de memória desse país, vai contra uma calçada da fama brasileira?”

Rudá não quer o fim dos bares, só da bagunça. “Queremos organizar”, diz. A?ruazinha modesta é uma paisagem de festa, mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira, aqueles do poema de Oswald, parecem estar dizendo: Deixa disso, Lilian/ Me dá um descanso.

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