domingo, 20 de janeiro de 2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
O passe
Alguns atletas, como era nítido em Pelé, têm um campo visual muito maior que outros, em consequência de privilegiada anatomia do globo ocular. Pelé tem os olhos grandes e bem abertos. Parecia enxergar até o que estava em suas costas. Outros atletas, que têm olhos mais profundos e mais envolvidos por maior estrutura óssea, têm uma visão periférica muito menor. Enxergam quase somente o que está a sua frente.
Os oftalmologistas falam que o campo visual pode ser ampliado em qualquer pessoa com exercícios específicos. No futuro, os oftalmologistasfarão parte também das comissões técnicas.
Tostão, Revista Serrote, nº1, Março de 2009.
Encerramento e Gran-Finale
Porque inerme deste o teu afeto
Nos socos do coração
Te levarei
Nas quatro sacadas fechadas
Do coração
Deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro
O mago anterior a toda cronologia
O refém de Deus
O poeta vestido de folhagem
De cocos e de crânios
Alba
Alfaia
Rosa dos Alkmin
Dia e noite do meu peito que farfalha
A teu lado
Terei o mapa-múndi
Em minhas mãos infantes
Quero colher
O fruto crédulo das semeaduras
Darei o mundo
A um velho de juba
A seu procurador mongol
E a um amigo meu
Com que pretenderam
Encarcerar o sol
Viveremos
O corsário e o porto
Eu para você
Você para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
Para lá da vida imediata
Das tripulações de trincheira
Que hoje comigo
Com meus amigos redivivos
Escutam os assombrados
Brados de vitória
De Stalingrado
São Paulo - dezembro de 1942
ANDRADE, Oswald de. "Cânticos dos Cânticos para Flauta e Violão". In: Cadernos de Poesia do Aluno Oswald (Poesias Reunidas). São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos".
"Feliz é o destino da inocente vestalEsquecida pelo mundo que ela esqueceu
Brilho eterno de uma mente sem lembranças!Toda prece é ouvida, toda graça se alcança"
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Poema I de GRAMATICAIS
Uma palavra que entre as coisas caminhasse
tal qual um deus incógnito entre os mortais,
sem revelar a sua verdadeira face.
Uma palavra que vivesse na linguagem
perfeitamente engastalhada em meio às coisas,
como a maçã na casca, ou a ervilha na vagem.
Uma palavra que pulsasse sob a derme
como aguarda sem pressa a hora de espocar
de sua cápsula, uma semente ou germe.
Enfim uma palavra apenas que pudesse
abraçar todo o mundo, e nele não coubesse.
tal qual um deus incógnito entre os mortais,
sem revelar a sua verdadeira face.
Uma palavra que vivesse na linguagem
perfeitamente engastalhada em meio às coisas,
como a maçã na casca, ou a ervilha na vagem.
Uma palavra que pulsasse sob a derme
como aguarda sem pressa a hora de espocar
de sua cápsula, uma semente ou germe.
Enfim uma palavra apenas que pudesse
abraçar todo o mundo, e nele não coubesse.
BRITTO, Paulo Henrique. Tarde. São Paulo. Companhia das Letras, 2007.
Poema I de DOIS NOTURNOS
A noite é cuidadosa com seus cúmplices.
Enorme prostituta complacente,
acolhe toda insônia e compreende
todo o postiço, todo falso e dúplice.
Abraço o pássaro assustado e arisco dessa hora de máscaras agudas.
Meu gesto limpo, que ninguém escuta,
se esgota sem alarde, sem perigo.
O escuro é bom. Dispo o desejo e os óculos,
cuspo as palavras claras: maravilha,
identidade, lucidez, vígilia,
abrasador. Sou mudo, nu, ilógico.
A noite aceita esse meu ser noturno,
inverso, íncubo, e goza. Eu durmo.
BRITTO, Paulo Henrique. Trovar Claro. São Paulo. Companhia das Letras, 1997.
Novos e velhos tipos de homem-roubada
07/01/13 - 12:31
POR Xico Sá
POR Xico Sá

Todo
começo de ano, como serviço de utilidade pública, alertamos sobre
tipinhos de alta periculosidade. Agora não será diferente, em edição
revista e ampliada, velhos tipos e algumas confissões de fraqueza deste
cronista:
Homem-gourmet – A cerveja dele é gourmet, o café é
gourmet, até a água é gourmet. Se tudo é gourmet, perdão pela grosseria,
mas nada de te comer. Corra, Lola, corra.
Homem-ocupação - É o tipo que sempre tem uma causa.
Ótimo. O mundo carece destes homens de boa vontade. O problema é que de
tanto salvar o mundo, ele esquece justamente de você. Desocupa a
área, Lola, desocupa.
Homem de predinho antigo – Até este macho-jurubeba
que vos fala já capitulou e mora em um destes endereços. E logo eu que
dizia que todo homem que habita um predinho é, para dizer o mínimo, um
metrossexual enrustido.
O pior não é morar em tal lugar. O que mais dói é quando ele
pronuncia, como toda a afetação desse mundo, que mora num
“predinho-antigo-charmoso”. Pelo menos desse mal não padeço.
O cenário do homem de predinho antigo é o seguinte: você entra,
resistente leitora, e avista logo umas revistas chiques estrangeiras
espalhadas pela sala, tipo “ID”, “Wallpaper” etc.
O cara manja de decoração e entende de iluminação indireta. É cada
luminária de design que só vendo! Possui também cadeiras ou poltroninhas
de grife, aqueles estranhos móveis com nome de gente.
Sim, habito um predinho antigo, mas, fora um ou outro presente das
moças, pelo menos no critério decoração mantenho a integridade
jurubebística.
Homem-hortinha – Aquele mancebo que, ao receber as
moças elegantemente para um jantar, usa o manjericão cultivado na
própria hortinha que mantém no quintal ou na área de serviço.
Cultivar o próprio manjericão não é exatamente o defeito do rapaz. O
problema é que ele passa duas horas a discorrer sobre o cultivo da
hortinha. Uma amiga, coitada, conheceu um destes exemplares que
cultivava até a própria minhoca usado como “fator adubante” da própria
hortinha. Corra, Lola, avoe, mina!
Homem-bouquet – Aquele macho que entende de vinhos
finos, abre a garrafa cheio de drama e nove-horas, cheira a rolha,
balança na taça, sente o bouquet e curte o amadeirado. Gostar de vinho
bom, velho Baco, não é um delito. Pecado mesmo é arrotar esse
conhecimento por horas nas oiças da moça. Dispare, Lola, dispare
enquanto é tempo.
Homem-Ossanha – Trata-se daquela cara que repete o
comportamento da música “Canto de Ossanha”, como no samba de Vinícius de
Moraes e Baden Powell: “O homem que diz vou/ Não vai!” O cara que
assanha e cai fora.
Esse cara já fui eu, fomos, não é, amigo? Haja carapuça. Todo macho
tem seu momento de frouxo. O mal é manter esse comportamento como regra,
caso da maioria dos homens do nosso tempo. Vaza, Lola, vaza!
A Era
Minha era, minha fera, quem ousa,
Olhando nos teus olhos, com sangue,
Colar a coluna de tuas vértebras?
Com cimento de sangue – dois séculos –
Que jorra da garganta das coisas?
Treme o parasita, espinha langue,
Filipenso ao umbral de horas novas.
Todo ser enquanto a vida avança
Deve suportar esta cadeia
Oculta de vértebras. Em torno
Jubila uma onda. E a vida como
Frágil cartilagem de criança
Parte seu ápex: morte da ovelha,
A idade da terra em sua infância.
Junta as partes nodosas dos dias:
Soa a flauta, e o mundo está liberto,
Soa a flauta, e a vida se recria.
Angústia! A onda do tempo oscila
Batida pelo vento do século.
E a víbora na relva respira
O ouro da idade, áurea medida.
Vergônteas de nova primavera!
Mas a espinha partiu-se da fera,
Bela era lastimável. Era,
Ex-pantera flexível, que volve
Para trás, riso absurdo, e descobre
Dura e dócil, na meada dos rastros,
As pegadas de seus próprios passos.
Óssip Mandel´štam
1923
Tradução Haroldo de Campos
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