segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Poema I de DOIS NOTURNOS

A noite é cuidadosa com seus cúmplices.
Enorme prostituta complacente,
acolhe toda insônia e compreende
todo o postiço, todo falso e dúplice.
Abraço o pássaro assustado e arisco
dessa hora de máscaras agudas.
Meu gesto limpo, que ninguém escuta,
se esgota sem alarde, sem perigo.
O escuro é bom. Dispo o desejo e os óculos,
cuspo as palavras claras: maravilha,
identidade, lucidez, vígilia,
abrasador. Sou mudo, nu, ilógico.
A noite aceita esse meu ser noturno,
inverso, íncubo, e goza. Eu durmo.

       
BRITTO, Paulo Henrique. Trovar Claro. São Paulo. Companhia das Letras, 1997.

Nenhum comentário: