terça-feira, 25 de maio de 2010

Cara minha inimiga, em cuja mão
Pôs meus contentamentos a ventura,
Faltou-te a ti na terra sepultura,
Porque me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
A tua peregrina fermosura;
Mas, enquanto me a mim a vida dura,
Sempre viva em minha alma te acharão.

E se meus rudos versos podem tanto
Que possam prometer-te longa história
Daquele amor tão puro e verdadeiro,

Celebrada serás sempre em meu canto;
Porque, enquanto no mundo houver memória,
Será a minha escritura o teu letreiro.

CAMÕES, Luís de. "Sonetos". In: Obra Completa em um volume. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2005.

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