terça-feira, 6 de maio de 2008

Investiment Grade

Hoje, o que acontece assusta. Disse João Cabral, no entanto, que a famosa frase de Adorno sobre o fim da poesia após Auschwitz era só uma boutade. Afinal, a arte sempre existiu e o mundo sempre foi violento. A poesia nasceu muito mais da infelicidade que da felicidade, diz Cabral. Mas a violência continua a assustar. De tão indômita, parece algo próprio de "nosso tempo". O mundo prometido em que a ciência e a democracia trariam níveis cada vez maiores de desenvolvimento técnico e moral não chegou. No capitalismo, a razão é só instrumental. Serve sempre a interesses escusos. A fuga do mito para soerguer a razão, como se sabe, nos levou aos campos de concentração. A razão dormiu. A razão teve insônia. E o que temos hoje, na verdade, são processos de controle cada vez mais elaborados. No supermercado, há placas que dizem: Sorria, você está sendo filmado. Quer dizer, não são mais necessários os antigos confinamentos. A prisão, a escola, o hospício, tudo está fora de moda. Em compensação, o capital cria outras formas de controle. Temos tornozeleiras ou coleiras eletrônicas que dispensam o modelo antigo. Elas são ligadas a um computador central, uma espécie de HAL, que nos elimina como indivíduo, deixando-nos sempre divíduos, sempre partidos. O controle começa já na produção, um controle, sobretudo, do corpo. Quanto mais técnica, mais controle e isso significa mais violência. E o que se vê são atos, que de tão estúpidos, parecem inexplicáveis. Talvez assim, poderíamos entender (ou desentender) o caso Isabella ou o do austríaco maluco. A maldade é fértil e engendra sempre maldade. Como nos lembra o indefectível Brás Cubas: O lábio do homem não é como a pata do cavalo de Átila, que esterilizava o solo em que batia; é justamente o contrário.

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