Luiz Fernando Ramos fez, certa feita, uma interessante aproximação entre
Antonin Artaud e Samuel Beckett. Por um lado, Beckett tem um verdadeiro
culto à palavra. Por outro, Artaud escreve que “o mais urgente não me
parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer
ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor, mas extrair,
daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da
fome”. Artaud defende uma “poesia no espaço, independente da linguagem
articulada” cuja encenação seria metafísica e alquímica contra “a
ditadura exclusiva da palavra”. Dois posicionamentos bem distantes.
Porém, havia em ambos a busca de uma nova escritura que tivesse por
objetivo incorporar a materialidade mesmo da cena. Se Beckett procurou
trazê-la a partir das palavras e principalmente através da rubricas,
Artaud, por sua vez, buscava uma despalavra
cujas possibilidades de realização não estavam no cérebro do autor,
“mas na própria natureza”, “no espaço real”. Segundo Ramos, "Beckett
buscou inscrever na palavra o corpo da cena. Artaud pretendeu revelar o
corpo da cena com a invenção de uma nova palavra".
Nenhum comentário:
Postar um comentário