terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Beckett e Artaud

Luiz Fernando Ramos fez, certa feita, uma interessante aproximação entre Antonin Artaud e Samuel Beckett. Por um lado, Beckett tem um verdadeiro culto à palavra. Por outro, Artaud escreve que “o mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor, mas extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome”. Artaud defende uma “poesia no espaço, independente da linguagem articulada” cuja encenação seria metafísica e alquímica contra “a ditadura exclusiva da palavra”. Dois posicionamentos bem distantes. Porém, havia em ambos a busca de uma nova escritura que tivesse por objetivo incorporar a materialidade mesmo da cena. Se Beckett procurou trazê-la a partir das palavras e principalmente através da rubricas, Artaud, por sua vez, buscava uma despalavra cujas possibilidades de realização não estavam no cérebro do autor, “mas na própria natureza”, “no espaço real”. Segundo Ramos, "Beckett buscou inscrever na palavra o corpo da cena. Artaud pretendeu revelar o corpo da cena com a invenção de uma nova palavra".

Nenhum comentário: