terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dois a sós

      Para Leyla Perrone-Moisés, Improviso de Ohio é uma peça "singular no universo de Beckett”. Se as personagens beckettianas são sempre solitárias e se relacionam num regime de sadomasoquismo ou mediante uma relação mestre/escravo, em “Improviso de Ohio” não há nenhuma agressividade ou crueldade; pelo contrário, o que aí se narra é elevado. Trata-se de um amor que foi feliz: “amor por/de alguém que já morreu e envia outro para confortar o que ficou”. Segundo Perrone-Moisés, este texto pertence ao gênero clássico chamado ''consolatio''. Beckett, em plena condensação poética, trata do amor sem sentimentalismos, reduzindo tudo ao essencial.
      Porém, certamente, o melhor do artigo está na explicação para a nova tradução, já que Haroldo de Campos e Maria Helena Kopschitz já tinham realizado outra anteriormente. Como o texto tinha versões de Beckett em inglês e francês, Leyla afirma que sua tradução está mais próxima do texto em francês, ao contrário da tradução anterior. Isso permite, por exemplo, encontrar outras soluções para traduzir expressões como “alone together”, que em francês virou “seuls ensemble”. Campos e Kopschitz traduziram por ''a sós juntos''. Já Perrone-Moisés preferiu aproveitar alguns versos de Fernando Pessoa : ''Hoje, falho de ti, sou dois a sós, / Há almas pares, as que conheceram / Onde os seres são almas./ Como éramos só um, falando! Nós / Éramos como um diálogo numa alma. / Não sei se dormes (...) calma, / Sei que, falho de ti, estou um a sós''.

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