A
verdade tem seu tempo e o tempo, suas verdades. Se eu dissesse que meu
esforço é trazer agora o futuro para já, isso tem muitos
desdobramentos. Se fosse frase de Clarice seria a busca de um instante-já.
Mas se fosse pronunciada hoje, anonimamente, poderia ser tão
melancólica que melhor seria não dizer nada. Quando digo "farei",
"verei", "gozarei", tudo isto é dito num presente, é claro. Mas esse
“trazer o futuro para o presente” pode ser duplicado, pois parece que
hoje o futuro já não vem, ele é sempre adiado e o que resta é um eterno
e não terno presente que perece e não passa. O futuro não vem porque
já é. E continuará. Talvez quiséssemos palavras mais exatas, mas elas
não nos bastam. Incharam de tão vazias. Se fossem onomatopéias,
imitariam outro som, e se isto não é suficiente seria pelo menos um
indício, uma metáfora, outras palavras, um outro. É preciso dizer que a
verdade pode ser também atemporal, tal como o tempo tem das suas
mentiras. Entre um e outro, jogo de xadrez com a morte, vivemos.
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