Te Alui, Malino
Budejos a Locé
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
domingo, 31 de agosto de 2014
A mística marinista
Empatada com a presidente Dilma Rousseff no primeiro turno, com 34% das preferências, e tendo dez pontos de vantagem sobre a petista num eventual segundo turno (50% a 40%), a candidata do PSB, Marina Silva, viu confirmar-se na pesquisa Datafolha o fenômeno de sua ascensão eleitoral.
Assumindo de forma inédita a condição de protagonista, Marina terá sobre si todos os holofotes. Não só a curiosidade dos eleitores em relação a seus planos aumentará, mas também os ataques de seus adversários se intensificarão.
Seu programa de governo veio em boa hora para atender o interesse que seu crescimento estimulou --e merecerá análise e debate detalhados nos próximos dias. A imprensa, quanto a isso, terá papel importante a desempenhar.
Mas se Marina Silva alcança destaque tão notável, isso se deve menos a pontos específicos do programa de seu partido --um legado de Eduardo Campos, na verdade-- e mais à densidade simbólica que cerca sua imagem pessoal.
O caso Marina constitui um paradoxo em que as críticas parecem reforçar a própria figura que se quer desconstruir. Não é difícil identificar exemplos disso.
Proveniente do PT e alinhada durante toda sua trajetória a propostas de esquerda, Marina agora defende a independência do Banco Central e se cerca de personalidades ligadas ao mercado financeiro.
Aponta-se a contradição, ou o que há de indefinido nisso, e o discurso marinista traz a resposta engenhosa: trata-se de superar dicotomias, de governar "com os melhores", de reconhecer, sem preconceitos de classe, a importância das elites na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
A indefinição se transforma, magicamente, em virtude; a ampliação das alianças à direita não descaracteriza a postulação porque, no fundo, o prestígio de Marina chancela tudo. Com a ideia da "nova política" ocorre a mesma coisa.
Aliando-se no ano passado ao PSB, Marina quis dar continuidade a seu projeto pessoal. Da ausência de base partidária genuína, cria-se a mística de uma candidatura que supera partidarismos.
Deixarão de existir? Estarão as "pessoas de bem" de acordo em tudo? Não haveria uma aposta messiânica no poder de arbitrar, acima das instituições, divisões de interesses que seu discurso minimiza?
São fragilidades evidentes na postulação --e fatores de risco para um eventual governo seu.
Parecem, ao mesmo tempo, eficazes instrumentos de campanha, criando a imagem de uma oposição que não é oposição, de uma amplitude de enraizamento social que se resume a um ápice iluminado, de uma maioria espelhada numa só pessoa, na qual tudo mais se projeta do que se representa, mais se imagina do que se verifica.
O que isso possa ter de messiânico e de religioso, ou de inovador e consistente, é uma pergunta a ser respondida --espera-se-- no decorrer da campanha eleitoral.
Editorial - Folha de São Paulo (31/8/2014)
Marcadores:
Dilma,
Eduardo Campos,
Marina Silva,
messianismo,
Política,
PSB,
PT,
religião
Chaplin e Hitler
Havia um trabalho subterrâneo para que o Departamento de Estado expulsasse Chaplin do território norte-americano.
A luta estava nesses termos quando estoura a guerra de 1939. Ele sabe que, mais uma vez, diversos interesses estão em jogo. Interesses econômicos, luta por mercados consumidores e zonas de influência --as motivações de sempre.
Os Estados Unidos mantinham-se em prudente cautela, sem tomar partido no conflito. O governo esperou dois anos, esperou pelo massacre de Pearl Harbor para tomar uma decisão. A questão é muito controversa e devemos admitir que Roosevelt lutava contra as forças ocultas que sempre são eficientes em horas assim. O estadista do New Deal tinha uma política nitidamente antifascista, mas era quase uma voz isolada clamando na Casa Branca.
Precisou que a própria história criasse as condições objetivas para a decisão --e é possível, segundo alguns, que o próprio governo de Roosevelt tenha cooperado, por omissão ou tática, na catástrofe de Pearl Harbor.
O lançamento de "The Great Dictator" ("O Grande Ditador") provocou cólera em Hitler. Foram empreendidas diligências diplomáticas entre Berlim e Washington e o embaixador Hans-Heinrich Dieckhoff, representante oficial de Hitler junto ao governo dos Estados Unidos, ameaçou precipitar certas represálias.
Àquela época, os Estados Unidos mantinham vastos mercados consumidores na zona centro-europeia. A economia e o futuro da nação exigiam prudência. Os horizontes da guerra não estavam delineados, a impressão dominante era que Hitler sairia vencedor, e em breve espaço de tempo. Desta forma, o filme de Chaplin foi interditado, em nome das boas relações entre Washington e Berlim. Só ano e meio depois --depois de Pearl Harbor-- o filme foi novamente liberado.
Carlos Heitor Cony
Folha de São Paulo, 31/8/2014
Marcadores:
Carlos Heitor Cony,
Chaplin,
cinema,
Política
Desvendando Marina
A inesperada candidatura da sra. Marina Silva à Presidência da República deixa perplexos tanto a população como a opinião pública, inclusive os mais avisados. Todos reconhecem sua honestidade e inquestionável obstinação pelo progresso do homem brasileiro. Mas, por que então esse embaraço? Essa inquietação? Detecto, em casos extremos, cidadãos bem-intencionados que dizem que votarão em Marina, mas que, consciente ou inconscientemente, preferem que ela perca. Por que essa ambivalência?
Não é por causa de seu apego a questões ecológicas, certamente, pois percebemos que as circunstâncias e as necessidades materiais imporão limites realistas a eventuais ações nesse campo. Não é por medo de inadequação em gestão, pois sua equipe, principalmente aquela que a assistia quando montava o seu partido, a Rede, inclui executivos, economistas e intelectuais reconhecidamente competentes.
Resta considerar suas crenças mais íntimas, inclusive religiosas, por que não? Minha convicção é a de que o comentarista não tem o direito de especular sobre a religião das pessoas que analisa. Todavia, há exceções quando se suspeita que essas crenças possam ter influência no bem-estar do povo. É o caso de fundamentalismos, inclusive o criacionismo. Marina Silva, no passado, admitiu essa sua convicção. Ultimamente, evita discussões sobre o problema.
Pois bem, não me sinto confortável em ter como presidente uma pessoa que acredita concretamente que o Universo foi criado em sete dias há apenas 4.000 anos, aproximadamente.
Pois, para isso, é preciso ignorar a montanha de dados cientificamente incontornáveis e todo o patrimônio intelectual que a humanidade acumulou durante séculos. Percebo no fundamentalista cristão uma arrogância incomensurável, que apenas pode ser entendida como uma perversão intelectual, que não pode deixar de impor tendências cujos limites são imprevisíveis.
Muitos de seus seguidores vão perguntar qual seria a explicação para o fato de que tantos intelectuais (ou seriam pseudointelectuais) tivessem se integrado à Rede? Pois bem, Marina é um tesouro eleitoral, arrasta com ela uma multidão de eleitores bem-intencionados. Teria sido pelas suas ideias que esses economistas e intelectuais aderiram à Rede ou seria por causa do caudal aurífero eleitoral que, na sua liderança, perceberam?
Outros vão interpor contestações subjetivas como aquelas relacionadas às suas incontestáveis qualidades, tais como articulação oral, capacidade como debatedora, eloquência etc. Ora, o fenômeno que foi chamado originariamente "idiot–savant" (savantismo) é hoje universalmente aceito.
A ciência reconhece que o cidadão pode atuar de maneira coerente em um campo, ser mesmo genial, enquanto em outras áreas do comportamento mostra-se incapaz, por vezes incontrolável. Ou seja, pior ainda. O fundamentalismo de Marina Silva não decorre da ignorância, mas de um defeito de percepção. Os especialistas chamam essa condição de desordem do desenvolvimento neural.
Essa é a razão por que espero que Marina não ganhe esta eleição.
ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 83, físico, é professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha
Folha de São Paulo, 31/8/2014
Marcadores:
Marina Silva,
Política,
Rogério Cezar de Cerqueira Leite
sábado, 30 de agosto de 2014
7 motivos pelos quais Marina Silva não representa a “nova política”
Neca Setúbal, herdeira do Itaú e coordenadora do programa de governo de Marina Silva, a candidata e seu vice, Beto Albuquerque
É comum eleitores justificarem o voto em Marina Silva para presidente nas Eleições 2014 afirmando que ela representaria uma “nova forma de fazer política”. Abaixo, sete razões pelas quais essa afirmação não faz sentido:
1. Marina Silva virou candidata fazendo uma aliança de ocasião. Marina abandonou o PT para ser candidata a presidente pelo PV. Desentendeu-se também com o novo partido e saiu para fundar a Rede -- e ser novamente candidata a presidente. Não conseguiu apoio suficiente e, no último dia do prazo legal, com a ameaça de ficar de fora da eleição, filiou-se ao PSB. Os dois lados assumem que a aliança é puramente eleitoral e será desfeita assim que a Rede for criada. Ou seja: sua candidatura nasce de uma necessidade clara (ser candidata), sem base alguma em propostas ou ideologia. Velha política em estado puro.
2. A chapa de Marina Silva está coligada com o que de mais atrasado existe na política. Em São Paulo, o PSB apoia a reeleição de Geraldo Alckmin, e é inclusive o partido de seu candidato a vice, Márcio França. No Paraná, apoia o também tucano Beto Richa, famoso por censurar blogs e pesquisas. A estratégia de “preservá-la” de tais palanques nada mais é do que isso, uma estratégia. Seu vice, seu partido, seus apoiadores próximos, seus financiadores e sua equipe estão a serviço de tais candidatos. Seu vice, Beto Albuquerque, aliás, é historicamente ligado ao agronegócio. Tudo normal, necessário até. Mas não é “nova política”.
3. As escolhas econômicas de Marina Silva são ainda mais conservadoras que as de Aécio Neves. A campanha de Marina é a que defende de forma mais contundente a independência do Banco Central. Na prática, isso significa deixar na mão do mercado a função de regular a si próprio. Nesse modelo, a política econômica fica nas mãos dos banqueiros, e não com o governo eleito pela população. Nem Aécio Neves é tão contundente em seu neoliberalismo. Os mentores de sua política econômica (futuros ministros?) são dois nomes ligados a Fernando Henrique: Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES e um dos líderes da política de privatizações de FHC. Algum problema? Para quem gosta, nenhum. Não é, contudo, “uma nova forma de se fazer política”.
4. O plano de governo de Marina Silva é feito por megaempresários bilionários. Sua coordenadora de programa de governo e principal arrecadadora de fundos é Maria Alice Setúbal, filha de Olavo Setúbal e acionista do Itaú. Outro parceiro antigo é Guilherme Leal. O sócio da Natura foi seu candidato a vice e um grande doador financeiro individual em 2010. A proximidade ainda mais explícita no debate da Band desta terça-feira. Para defendê-los, Marina chegou a comparar Neca, herdeira do maior banco do Brasil, com um lucro líquido de mais de R$ 9,3 bilhões no primeiro semestre, ao líder seringueiro Chico Mendes, que morreu pobre, assassinado com tiros de escopeta nos fundos de sua casa em Xapuri (AC) em dezembro de 1988. Devemos ter ojeriza dos muito ricos? Claro que não. Deixar o programa de governo a cargo de bilionários, contudo, não é exatamente algo inovador.
5. Marina Silva tem posições conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. O discurso ensaiado vem se sofisticando, mas é grande a coleção de vídeos e entrevistas da ex-senadora nas quais ela se alinha aos mais fundamentalistas dogmas evangélicos. Devota da Assembleia de Deus, Marina já colocou-se diversas vezes contra o casamento gay, contra o aborto mesmo nos casos definidos por lei, contra a pesquisa com células-tronco e contra qualquer flexibilização na legislação das drogas. Nesses temas, a sua posição é a mais conservadora dentre os três principais postulantes à Presidência.
6. Marina Silva usa o marketing político convencional. Como qualquer candidato convencional, Marina tem uma estrutura robusta e profissionalizada de marketing. É defendida por uma assessoria de imprensa forte, age guiada por pesquisas qualitativas, ouve marqueteiros, publicitários e consultores de imagem. A grande diferença é que Marina usa sua equipe de marketing justamente para passar a imagem de não ter uma equipe de marketing.
7. Marina Silva mente ao negar a política. A cada vez que nega qualquer um dos pontos descritos acima, a candidata falta com a verdade. Ou, de forma mais clara: ela mente. E faz isso diariamente, como boa parte dos políticos dos quais diz ser diferente.
Há algum mal no uso de elementos da política tradicional? Nenhum. Dentro do atual sistema político, é assim que as coisas funcionam. E é bom para a democracia que pessoas com ideias diferentes conversem e cheguem a acordos sobre determinados pontos. Isso só vai mudar com uma reforma política para valer, algo que ainda não se sabe quando, como e se de fato será feita no Brasil.
Aécio tem objetivos claros. Quer resgatar as bandeiras históricas do PSDB, fala em enxugamento do Estado, moralização da máquina pública, melhora da economia e o fim do que considera um assistencialismo com a população mais pobre. Dilma também faz política calcada em propósitos claros: manter e aprofundar o conjunto de medidas do governo petista que estão reduzindo a desigualdade social no País.
Se você, entretanto, não gosta da plataforma de Dilma ou da de Aécio e quer fortalecer “uma nova forma de fazer política”, esqueça Marina e ouça Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) com mais atenção.
De Marina Silva, espere tudo menos a tal “nova forma de fazer política”. Até agora a sua principal e quase que única proposta é negar o que faz diariamente: política.
CartaCapital
por Lino Bocchini — publicado 27/08/2014 14:10, última modificação 27/08/2014 16:07
Marcadores:
Beto Albuquerque,
Carta Capital,
Marina Silva,
Neca Setúbal,
Política
Refém de Malafaia, em menos de 24 horas Marina volta atrás e muda programa de governo
Comitê da candidata do PSB à Presidência afirma ter havido ‘falha processual na editoração’ do programa lançado e divulga ‘errata’
Decorridas menos de 24 horas do lançamento oficial de seu programa de governo, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, emitiu nota oficial para retificar o que havia prometido em relação à defesa dos direitos da população homossexual.
Alegando “falha processual na editoração do texto” divulgado, ela recuou em relação aos pontos mais polêmicos e rejeitados pelos pastores de denominações evangélicas, onde se abriga parte considerável de seu eleitorado.
Ontem, após a divulgação do programa, ao mesmo tempo que as redes sociais registravam manifestações de apoio da comunidade LGBT, pastores e políticos da bancada evangélica disparavam críticas, insinuando que Marina perderia o apoio do eleitorado de suas igrejas.
Um dos pontos que mais deixam evidente o recuo da candidata, que pertence à igreja Assembleia de Deus, é a supressão da promessa de “articular no Legislativo a votação da PLC 122″. O objetivo desse projeto de lei, que tramita desde 2006, é equiparar o crime de homofobia ao racismo, com a aplicação das mesmas penas previstas em lei.
Desde que surgiu, ele tem sido combatido pela bancada evangélica, com o argumento de que pastores que atacarem a homofobia em seus programas de rádio e TV também poderão criminalizados, o que seria uma restrição do ponto de vista da liberdade religiosa.
Outro recuo dos mais notáveis se refere à união entre pessoas do mesmo sexo. Na versão original, Marina prometeu “apoiar propostas em defesa do casamento civil e igualitária com vistas à aprovação dos projetos de lei e da emenda constitucional em tramitação, que garantem o direito ao casamento igualitário na Constituição e no Código Civil”. Na proposta modificada, ela diz que vai “garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo”.
Em outras palavras, ela vai se limitar a cumprir determinações legais já existentes, que surgiram do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que reconhecem a união civil entre pessoas do mesmo sexo e obriga os cartórios a registrar essas uniões. A promessa, portanto, apenas informa que a determinação do Supremo será cumprida. O que os gays reivindicam é uma lei que garanta o direito à união na Constituição. Isso os deixaria livres de mudanças nas interpretações do STF e do CNJ. Em outras palavras, teriam mais segurança.
Kit escolar. Marina se igualou à atual presidente Dilma Rousseff ao suprimir do programa a promessa de “desenvolver material didático destinado a conscientizar sobre a diversidade de orientação sexual e as novas formas de família”.
Em 2011, pressionada pela bancada evangélica no Congresso, Dilma interrompeu a distribuição de material didático que se destinava justamente a combater a intolerância nas escolas, afirmando que seu governo não faria divulgação de nenhum tipo de orientação sexual. De la cá para cá, Dilma tem sido duramente criticada pela comunidade LGBT por essa decisão. Na sexta-feira, com a divulgação de seu programa, Marina ganhou elogios de quase toda a comunidade, que voltou a se lembrar da atitude de Dilma.
O terceiro ponto mais notável é o que trata da aprovação do Projeto de Lei da Identidade de Gênero Brasileira, mais conhecida como Lei João Nery. Seu objetivo é regulamentar o direito à troca de nomes de transexuais e travestis, dispensando a enorme burocracia que são obrigados a enfrentar hoje. Marina havia prometido mobilizar a bancada de governo no apoio à lei. No texto divulgado ontem, ela suprimiu a intenção de trabalhar pela aprovação.
PS do Viomundo: A pergunta deste site é muito simples. Você quer ser governado pelo pastor Silas Malafaia? Pelo papa Francisco? Pelos herdeiros da mãe menininha do Gantois? Ou você considera tudo isso uma questão de foro íntimo e não quer misturar Estado e religião? Você quer revogar a revolução francesa de 1789? É mesmo? Então, boas vindas à Idade Média.
publicado em 30 de agosto de 2014 às 14:51
Viomundo
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
segunda-feira, 8 de abril de 2013
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Das idiossincrasias
Cinema em Ipanema e Mar Azul. Onde andarás? Odeio e adoro Ferreira Gullar numa mesma oração.
Dois e dois ...
O pão é caro, a liberdade pequena. A vida vale a pena. Teus olhos claros, tua pele, morena.
Lua cor de prata
A lua vem saindo
Cor de prata
Cor de prata
Cor de prata
Que saudades da mulata.
Lamartine Babo
Cor de prata
Cor de prata
Cor de prata
Que saudades da mulata.
Lamartine Babo
Ver inferno e maravilhas
É tarde. Com a vista enevoada, leio "Lua cor de prata", de Lamartine,
como um bom exemplo do "correlato objetivo" de T. S. Eliot.
Quero que pinte um amor
São Paulo é como o mundo todo
No mundo, um grande amor perdi ...
Caetano Veloso
No mundo, um grande amor perdi ...
Caetano Veloso
domingo, 20 de janeiro de 2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
O passe
Alguns atletas, como era nítido em Pelé, têm um campo visual muito maior que outros, em consequência de privilegiada anatomia do globo ocular. Pelé tem os olhos grandes e bem abertos. Parecia enxergar até o que estava em suas costas. Outros atletas, que têm olhos mais profundos e mais envolvidos por maior estrutura óssea, têm uma visão periférica muito menor. Enxergam quase somente o que está a sua frente.
Os oftalmologistas falam que o campo visual pode ser ampliado em qualquer pessoa com exercícios específicos. No futuro, os oftalmologistasfarão parte também das comissões técnicas.
Tostão, Revista Serrote, nº1, Março de 2009.
Encerramento e Gran-Finale
Porque inerme deste o teu afeto
Nos socos do coração
Te levarei
Nas quatro sacadas fechadas
Do coração
Deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro
O mago anterior a toda cronologia
O refém de Deus
O poeta vestido de folhagem
De cocos e de crânios
Alba
Alfaia
Rosa dos Alkmin
Dia e noite do meu peito que farfalha
A teu lado
Terei o mapa-múndi
Em minhas mãos infantes
Quero colher
O fruto crédulo das semeaduras
Darei o mundo
A um velho de juba
A seu procurador mongol
E a um amigo meu
Com que pretenderam
Encarcerar o sol
Viveremos
O corsário e o porto
Eu para você
Você para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
Para lá da vida imediata
Das tripulações de trincheira
Que hoje comigo
Com meus amigos redivivos
Escutam os assombrados
Brados de vitória
De Stalingrado
São Paulo - dezembro de 1942
ANDRADE, Oswald de. "Cânticos dos Cânticos para Flauta e Violão". In: Cadernos de Poesia do Aluno Oswald (Poesias Reunidas). São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos".
"Feliz é o destino da inocente vestalEsquecida pelo mundo que ela esqueceu
Brilho eterno de uma mente sem lembranças!Toda prece é ouvida, toda graça se alcança"
Marcadores:
Charlie Kaufman,
cinema,
Michel Gondry,
Nietzsche,
Pope
Poema I de GRAMATICAIS
Uma palavra que entre as coisas caminhasse
tal qual um deus incógnito entre os mortais,
sem revelar a sua verdadeira face.
Uma palavra que vivesse na linguagem
perfeitamente engastalhada em meio às coisas,
como a maçã na casca, ou a ervilha na vagem.
Uma palavra que pulsasse sob a derme
como aguarda sem pressa a hora de espocar
de sua cápsula, uma semente ou germe.
Enfim uma palavra apenas que pudesse
abraçar todo o mundo, e nele não coubesse.
tal qual um deus incógnito entre os mortais,
sem revelar a sua verdadeira face.
Uma palavra que vivesse na linguagem
perfeitamente engastalhada em meio às coisas,
como a maçã na casca, ou a ervilha na vagem.
Uma palavra que pulsasse sob a derme
como aguarda sem pressa a hora de espocar
de sua cápsula, uma semente ou germe.
Enfim uma palavra apenas que pudesse
abraçar todo o mundo, e nele não coubesse.
BRITTO, Paulo Henrique. Tarde. São Paulo. Companhia das Letras, 2007.
Poema I de DOIS NOTURNOS
A noite é cuidadosa com seus cúmplices.
Enorme prostituta complacente,
acolhe toda insônia e compreende
todo o postiço, todo falso e dúplice.
Abraço o pássaro assustado e arisco dessa hora de máscaras agudas.
Meu gesto limpo, que ninguém escuta,
se esgota sem alarde, sem perigo.
O escuro é bom. Dispo o desejo e os óculos,
cuspo as palavras claras: maravilha,
identidade, lucidez, vígilia,
abrasador. Sou mudo, nu, ilógico.
A noite aceita esse meu ser noturno,
inverso, íncubo, e goza. Eu durmo.
BRITTO, Paulo Henrique. Trovar Claro. São Paulo. Companhia das Letras, 1997.
Novos e velhos tipos de homem-roubada
07/01/13 - 12:31
POR Xico Sá
POR Xico Sá

Todo
começo de ano, como serviço de utilidade pública, alertamos sobre
tipinhos de alta periculosidade. Agora não será diferente, em edição
revista e ampliada, velhos tipos e algumas confissões de fraqueza deste
cronista:
Homem-gourmet – A cerveja dele é gourmet, o café é
gourmet, até a água é gourmet. Se tudo é gourmet, perdão pela grosseria,
mas nada de te comer. Corra, Lola, corra.
Homem-ocupação - É o tipo que sempre tem uma causa.
Ótimo. O mundo carece destes homens de boa vontade. O problema é que de
tanto salvar o mundo, ele esquece justamente de você. Desocupa a
área, Lola, desocupa.
Homem de predinho antigo – Até este macho-jurubeba
que vos fala já capitulou e mora em um destes endereços. E logo eu que
dizia que todo homem que habita um predinho é, para dizer o mínimo, um
metrossexual enrustido.
O pior não é morar em tal lugar. O que mais dói é quando ele
pronuncia, como toda a afetação desse mundo, que mora num
“predinho-antigo-charmoso”. Pelo menos desse mal não padeço.
O cenário do homem de predinho antigo é o seguinte: você entra,
resistente leitora, e avista logo umas revistas chiques estrangeiras
espalhadas pela sala, tipo “ID”, “Wallpaper” etc.
O cara manja de decoração e entende de iluminação indireta. É cada
luminária de design que só vendo! Possui também cadeiras ou poltroninhas
de grife, aqueles estranhos móveis com nome de gente.
Sim, habito um predinho antigo, mas, fora um ou outro presente das
moças, pelo menos no critério decoração mantenho a integridade
jurubebística.
Homem-hortinha – Aquele mancebo que, ao receber as
moças elegantemente para um jantar, usa o manjericão cultivado na
própria hortinha que mantém no quintal ou na área de serviço.
Cultivar o próprio manjericão não é exatamente o defeito do rapaz. O
problema é que ele passa duas horas a discorrer sobre o cultivo da
hortinha. Uma amiga, coitada, conheceu um destes exemplares que
cultivava até a própria minhoca usado como “fator adubante” da própria
hortinha. Corra, Lola, avoe, mina!
Homem-bouquet – Aquele macho que entende de vinhos
finos, abre a garrafa cheio de drama e nove-horas, cheira a rolha,
balança na taça, sente o bouquet e curte o amadeirado. Gostar de vinho
bom, velho Baco, não é um delito. Pecado mesmo é arrotar esse
conhecimento por horas nas oiças da moça. Dispare, Lola, dispare
enquanto é tempo.
Homem-Ossanha – Trata-se daquela cara que repete o
comportamento da música “Canto de Ossanha”, como no samba de Vinícius de
Moraes e Baden Powell: “O homem que diz vou/ Não vai!” O cara que
assanha e cai fora.
Esse cara já fui eu, fomos, não é, amigo? Haja carapuça. Todo macho
tem seu momento de frouxo. O mal é manter esse comportamento como regra,
caso da maioria dos homens do nosso tempo. Vaza, Lola, vaza!
A Era
Minha era, minha fera, quem ousa,
Olhando nos teus olhos, com sangue,
Colar a coluna de tuas vértebras?
Com cimento de sangue – dois séculos –
Que jorra da garganta das coisas?
Treme o parasita, espinha langue,
Filipenso ao umbral de horas novas.
Todo ser enquanto a vida avança
Deve suportar esta cadeia
Oculta de vértebras. Em torno
Jubila uma onda. E a vida como
Frágil cartilagem de criança
Parte seu ápex: morte da ovelha,
A idade da terra em sua infância.
Junta as partes nodosas dos dias:
Soa a flauta, e o mundo está liberto,
Soa a flauta, e a vida se recria.
Angústia! A onda do tempo oscila
Batida pelo vento do século.
E a víbora na relva respira
O ouro da idade, áurea medida.
Vergônteas de nova primavera!
Mas a espinha partiu-se da fera,
Bela era lastimável. Era,
Ex-pantera flexível, que volve
Para trás, riso absurdo, e descobre
Dura e dócil, na meada dos rastros,
As pegadas de seus próprios passos.
Óssip Mandel´štam
1923
Tradução Haroldo de Campos
Marcadores:
Haroldo de Campos,
Óssip Mandel´štam,
poesia
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Samba e amor, leite derramado
“Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para
proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao
nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à
mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em
repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie
mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a
culpa de sua feiura.”
Marcadores:
Chico Buarque,
Leite derramado,
Literatura
Matilde
"Debaixo do chuveiro eu agora me olhava quase com medo, imaginando em
meu corpo toda a força e a insaciedade do meu pai. Olhando meu corpo,
tive a sensação de possuir um desejo potencial equivalente ao dele, por
todas as fêmeas do mundo, porém concentrado numa só mulher."
Marcadores:
Chico Buarque,
Leite derramado,
Literatura
Matilde
"... no entanto, eu não sabia mais me libertar de Matilde, procurava adivinhar seus movimentos mais íntimos e seus pensamentos tão distantes".
Marcadores:
Chico Buarque,
Leite derramado,
Literatura
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Fullgás
Nada de novo sob o sol: saio, agora, a fim de umas
geladas e de uma conversa boa, à toa. Afinal, mais vale um bocado com
prazer, do que dois com fadiga. No sol de dezembro, eu vou: um copo na
mão e algumas ideias na cabeça.
Trazer agora o futuro para já
A
verdade tem seu tempo e o tempo, suas verdades. Se eu dissesse que meu
esforço é trazer agora o futuro para já, isso tem muitos
desdobramentos. Se fosse frase de Clarice seria a busca de um instante-já.
Mas se fosse pronunciada hoje, anonimamente, poderia ser tão
melancólica que melhor seria não dizer nada. Quando digo "farei",
"verei", "gozarei", tudo isto é dito num presente, é claro. Mas esse
“trazer o futuro para o presente” pode ser duplicado, pois parece que
hoje o futuro já não vem, ele é sempre adiado e o que resta é um eterno
e não terno presente que perece e não passa. O futuro não vem porque
já é. E continuará. Talvez quiséssemos palavras mais exatas, mas elas
não nos bastam. Incharam de tão vazias. Se fossem onomatopéias,
imitariam outro som, e se isto não é suficiente seria pelo menos um
indício, uma metáfora, outras palavras, um outro. É preciso dizer que a
verdade pode ser também atemporal, tal como o tempo tem das suas
mentiras. Entre um e outro, jogo de xadrez com a morte, vivemos.
domingo, 23 de dezembro de 2012
Mais Platão, menos Prozac
Ao raro leitor, os desejos sinceros de um 2013 mais belo, mais lleno, vida melhor, enfim. Mais Platão, menos Prozac, mais música no coração, menos banalidade. Mais romance, menos namoro camisa de força, para provarmos que existe Amor em São Paulo, nos Campos Elíseos, nos Gerais, no Sertão-mundo de nossa ausência-presença.
Marcadores:
Amor,
Campos Elíseos,
Diadorim,
Existe amor em São Paulo,
Grande Sertão,
Platão
domingo, 9 de dezembro de 2012
Oscar Niemeyer, a Veja online e o Escaravelho
09/12/2012
Com a morte de Oscar Niemeyer aos 104 anos de idade ouviram-se vozes
do mundo inteiro cheias de admiração, respeito e reverência face a sua
obra genial, absolutamente inovadora e inspiradora de novas formas de
leveza, simplicidade e elegância na arquitetura. Oscar Niemeyer foi e é
uma pessoa que o Brasil e a humanidade podem se orgulhar.
E o fazemos por duas razões principais: a primeira, porque Oscar humildemente nunca considerou a arquitetura a coisa principal da vida; ela pertence ao campo da fantasia, da invenção e do lúdico. Para ele era um jogo das formas, jogado com a seriedade com que as crianças jogam.
A segunda, para Oscar, o principal era a vida. Ela é apenas um sopro, passageira e contraditória. Feliz para alguns mas para as grandes maiorias cruel e sem piedade. Por isso, a vida impõe uma tarefa que ele assumiu com coragem e com sérios riscos pessoais: a da transformação. E para transformar a vida e torná-la menos perversa, dizia, devemos nos dar as mãos, sermos solidários uns para com os outros, criarmos laços de afeto e de amorosidade entre todos. Numa palavra, nós humanos devemos aprender a nos tratar humanamente, sem considerar as classes, a cor da pele e o nível de sua instrução.
Isso foi que alimentou de sentido e de esperança a vida desse gênio brasileiro. Por aí se entende que escolheu o comunismo como a forma e o caminho para dar corpo a este sonho, pois, o comunismo, em seu ideário generoso, sempre se propôs a transformação social a partir das vítimas e dos mais invisíveis. Oscar Niemeyer foi um fiel militante comunista.
Mas seu comunismo era singular: no meu modo de ver, próximo dos cristãos originários pois era um comunismo ético, humanitário, solidário, doce, jocoso, alegre e leve. Foi fiel a esse sonho a vida inteira, para além de todos os avatares passados pelas várias formas de socialismo e de marxismo.
Na medida em que pudemos observar, a grande maioria da opinião pública mundial, foi unânime na celebração de sua arte e do significado humanista de sua vida. Curiosamente a revista VEJA de domingo, dedica-lhe 10 belas páginas. Outra coisa, porém, é a revista VEJA online de 7 de dezembro com um artigo do blog do jornalista Reinado Azevedo que a revista abriga.
Ele foi a voz destoante e de reles mau gosto. Até agora a VEJA não se distanciou daquele conteúdo, totalmente, contraditório àquele da edição impressa de domingo. Entende-se porque a ideologia de um é a ideologia do outro. Pouco importa que o jornalista Azevedo, de forma confusa, face às críticas vindas de todos os lados, procure se explicar. Ora se identifica com a revista, ora se distancia, mas finalmente seu blog é por ela publicado.
Notoriamente, VEJA se compraz em desfazer as figuras que melhor mostram nossa cultura e que mais penetraram na alma do povo brasileiro. Essa revista parece se envergonhar do Brasil, porque gostaria que ele fosse aquilo que não é e não quer ser: um xerox distorcido da cultura norte-americana. Ela dá a impressão de não amar os brasileiros, ao contrário expõe ao ridículo o que eles são e o que criam. Já o titulo da matéria referente a Oscar Niemeyer da autoria de Azevedo, revela seu caráter viciado e malevolente: ”Para instruir a canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens”. Seu texto piora mais ainda quando, se esforça, titubeante, em responder às críticas em seu blog do dia 8/12 também na VEJA online com um título que revela seu caráter despectivo e anti-democrático:”Metade gênio e metade idiota- Niemeyer na capa da VEJA com todas as honras! O que o bloco dos Sujos diz agora?” Sujo é ele que quer contaminar os outros com a própria sujeira de uma matéria tendenciosa e injusta.
O que se quer insinuar com os tipos de formulação usados? Que brasileiro não pode ser gênio; os gênios estão lá fora; se for gênio, porque lá fora assim o reconhecem, é apenas em sua terceira parte e, se melhor analisarmos, apenas numa quarta parte. Vamos e venhamos: Quem diz ser Oscar Niemeyer um idiota apenas revela que ele mesmo é um idiota consumado. Seguramente Azevedo está inscrito no número bem definido por Albert Einstein: ”conheço dois infinitos: o infinito do universo e o infinito dos idiotas; do primeiro tenho dúvidas, do segundo certeza”. O articulista nos deu a certeza que ele e a revista que o abriga possuem um lugar de honra no altar da idiotice.
O que não tolera em Oscar Niemeyer que, sendo comunista, se mostra solidário, compassivo com os que sofrem, que celebra a vida, exalta a amizade e glorifica o amor. Tais valores não cabem na ideologia capitalista de mercado, defendida por VEJA e seu albergado, que só sabe de concorrência, de “greed is good”(cobiça é coisa boa), de acumulação à custa da exploração ou da especulação, da falta de solidariedade e de justiça em nível internacional.
Mas não nos causa surpresa; a revista assim fez com Paulo Freire, Cândido Portinari, Lula, Dom Helder Câmara, Chico Buarque, Tom Jobim, João Gilberto, frei Betto, João Pedro Stédile, comigo mesmo e com tantos outros. Ela é um monumento à razão cínica. Segue desavergonhadamente a lógica hegeliana do senhor e do servo; internalizou o senhor que está lá no Norte opulento e o serve como servo submisso, condenado a viver na periferia. Por isso tanto a revista quanto o articulista revelam um completo descompromisso com a verdade daqui, da cultura brasileira.
A figura que me ocorre deste articulista e da revista semanal, em versão online, é a do escaravelho, popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás, deslocou-os de seu contexto (ela é hábil neste método) e lançou-os contra Oscar Niemeyer. Ela o faz com naturalidade e prazer, pois, é o meio no qual vive e se realimenta continuamente. Nada de surpreendente, portanto.
Paro por aqui. Mas quero apenas registrar minha indignação contra esta revista, em versão online, travestida de escaravelho por ter cometido um crime lesa-fama. Reproduzo igualmente dois testemunhos indignados de duas pessoas respeitáveis: Antonio Veronese, artista plástico vivendo em Paris e João Cândido Portinari, filho do genial pintor Cândido Portinari, cujas telas grandiosas estão na entrada do edifício da ONU em Nova York e cuja imagem foi desfigurada e deturpada, repetidas vezes, pela revista-escaravelho.
___________________________________________________________________
Oscar Niemeyer e a imprensa tupiniquim- Antonio Veronese
Crítica mesquinha, que pune o Talento, essa ousadia imperdoável de alçar os cornos acima da manada. No Brasil, Talento, como em nenhum outro país do mundo, é indigerível por parte da imprensa, que se acocora, devorada por inveja intestina. Capitania hereditária de raivosos bufões que já classificou a voz de Pavarotti de ruído de pia entupida; a música de Tom Jobim de americanizada; João Gilberto de desafinado e Cândido Portinari de copista…
Quando morre um homem de Talento, como agora o grande Niemeyer, os raivosos bufões babam diante do espelho matinal sedentos de escárnio.
Não discuto a liberdade da imprensa. Mas a pergunta que se impõe é como um cidadão, com a dimensão internacional de Oscar Niemeyer, (sua morte foi reverenciada na primeira página de todos os grandes jornais do mundo) pode ser chamado, por um jornalista mequetrefe, num órgão de imprensa de cobertura nacional, de metade-gênio-metade idiota? Isso após sua morte, quando não é mais capaz de defender-se, e ainda que sob a desculpa covarde, de reproduzir citação de terceiros… O consolo que me resta é que a História desinteressa-se desses espasmos da estupidez. Quem se lembra hoje dos críticos da bossa nova ou de Villa-Lobos? Ao talent, no entanto, está reservada a reverência da eternidade.
Antonio Veronese (mideart@gmail.com)
••••••••••••••••••
Meu caro Antonio,
Que beleza o seu texto, um verdadeiro bálsamo para os que ainda acreditam no mundo de amanhã nascendo do espírito, da fé e do caráter dos homens de hoje!
Não é toda a imprensa, felizmente. Há também muita dignidade e valor na mídia brasileira. Mas não devemos nos surpreender com a revista semanal. Em termos de vileza, ela sempre consegue se superar. Ela terá, mais cedo ou mais tarde, o destino de todas as iniquidades: a vala comum do lixo, onde nem a história se dará o trabalho de julgá-la.
Os arquivos do Projeto Portinari guardam um sem número de artigos desta rancorosa revista, assim como de outras da mesma editora, sobre meu pai, Cândido Portinari e outros seus companheiros de geração. Sempre pérfidos, infames e covardes, como este que vem agora tentar apequenar um grande homem que para sempre enaltecerá a nossa terra e o nosso povo.
Caro amigo, é impossível ficar calado, diante de tanta indignidade.
Com o carinho e a admiração do
Professor João Candido Portinari (portinari@portinari.org.br)
*Leonardo Boff é filósofo, teólogo, escritor e comisionado da Carta da Terra.
E o fazemos por duas razões principais: a primeira, porque Oscar humildemente nunca considerou a arquitetura a coisa principal da vida; ela pertence ao campo da fantasia, da invenção e do lúdico. Para ele era um jogo das formas, jogado com a seriedade com que as crianças jogam.
A segunda, para Oscar, o principal era a vida. Ela é apenas um sopro, passageira e contraditória. Feliz para alguns mas para as grandes maiorias cruel e sem piedade. Por isso, a vida impõe uma tarefa que ele assumiu com coragem e com sérios riscos pessoais: a da transformação. E para transformar a vida e torná-la menos perversa, dizia, devemos nos dar as mãos, sermos solidários uns para com os outros, criarmos laços de afeto e de amorosidade entre todos. Numa palavra, nós humanos devemos aprender a nos tratar humanamente, sem considerar as classes, a cor da pele e o nível de sua instrução.
Isso foi que alimentou de sentido e de esperança a vida desse gênio brasileiro. Por aí se entende que escolheu o comunismo como a forma e o caminho para dar corpo a este sonho, pois, o comunismo, em seu ideário generoso, sempre se propôs a transformação social a partir das vítimas e dos mais invisíveis. Oscar Niemeyer foi um fiel militante comunista.
Mas seu comunismo era singular: no meu modo de ver, próximo dos cristãos originários pois era um comunismo ético, humanitário, solidário, doce, jocoso, alegre e leve. Foi fiel a esse sonho a vida inteira, para além de todos os avatares passados pelas várias formas de socialismo e de marxismo.
Na medida em que pudemos observar, a grande maioria da opinião pública mundial, foi unânime na celebração de sua arte e do significado humanista de sua vida. Curiosamente a revista VEJA de domingo, dedica-lhe 10 belas páginas. Outra coisa, porém, é a revista VEJA online de 7 de dezembro com um artigo do blog do jornalista Reinado Azevedo que a revista abriga.
Ele foi a voz destoante e de reles mau gosto. Até agora a VEJA não se distanciou daquele conteúdo, totalmente, contraditório àquele da edição impressa de domingo. Entende-se porque a ideologia de um é a ideologia do outro. Pouco importa que o jornalista Azevedo, de forma confusa, face às críticas vindas de todos os lados, procure se explicar. Ora se identifica com a revista, ora se distancia, mas finalmente seu blog é por ela publicado.
Notoriamente, VEJA se compraz em desfazer as figuras que melhor mostram nossa cultura e que mais penetraram na alma do povo brasileiro. Essa revista parece se envergonhar do Brasil, porque gostaria que ele fosse aquilo que não é e não quer ser: um xerox distorcido da cultura norte-americana. Ela dá a impressão de não amar os brasileiros, ao contrário expõe ao ridículo o que eles são e o que criam. Já o titulo da matéria referente a Oscar Niemeyer da autoria de Azevedo, revela seu caráter viciado e malevolente: ”Para instruir a canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens”. Seu texto piora mais ainda quando, se esforça, titubeante, em responder às críticas em seu blog do dia 8/12 também na VEJA online com um título que revela seu caráter despectivo e anti-democrático:”Metade gênio e metade idiota- Niemeyer na capa da VEJA com todas as honras! O que o bloco dos Sujos diz agora?” Sujo é ele que quer contaminar os outros com a própria sujeira de uma matéria tendenciosa e injusta.
O que se quer insinuar com os tipos de formulação usados? Que brasileiro não pode ser gênio; os gênios estão lá fora; se for gênio, porque lá fora assim o reconhecem, é apenas em sua terceira parte e, se melhor analisarmos, apenas numa quarta parte. Vamos e venhamos: Quem diz ser Oscar Niemeyer um idiota apenas revela que ele mesmo é um idiota consumado. Seguramente Azevedo está inscrito no número bem definido por Albert Einstein: ”conheço dois infinitos: o infinito do universo e o infinito dos idiotas; do primeiro tenho dúvidas, do segundo certeza”. O articulista nos deu a certeza que ele e a revista que o abriga possuem um lugar de honra no altar da idiotice.
O que não tolera em Oscar Niemeyer que, sendo comunista, se mostra solidário, compassivo com os que sofrem, que celebra a vida, exalta a amizade e glorifica o amor. Tais valores não cabem na ideologia capitalista de mercado, defendida por VEJA e seu albergado, que só sabe de concorrência, de “greed is good”(cobiça é coisa boa), de acumulação à custa da exploração ou da especulação, da falta de solidariedade e de justiça em nível internacional.
Mas não nos causa surpresa; a revista assim fez com Paulo Freire, Cândido Portinari, Lula, Dom Helder Câmara, Chico Buarque, Tom Jobim, João Gilberto, frei Betto, João Pedro Stédile, comigo mesmo e com tantos outros. Ela é um monumento à razão cínica. Segue desavergonhadamente a lógica hegeliana do senhor e do servo; internalizou o senhor que está lá no Norte opulento e o serve como servo submisso, condenado a viver na periferia. Por isso tanto a revista quanto o articulista revelam um completo descompromisso com a verdade daqui, da cultura brasileira.
A figura que me ocorre deste articulista e da revista semanal, em versão online, é a do escaravelho, popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás, deslocou-os de seu contexto (ela é hábil neste método) e lançou-os contra Oscar Niemeyer. Ela o faz com naturalidade e prazer, pois, é o meio no qual vive e se realimenta continuamente. Nada de surpreendente, portanto.
Paro por aqui. Mas quero apenas registrar minha indignação contra esta revista, em versão online, travestida de escaravelho por ter cometido um crime lesa-fama. Reproduzo igualmente dois testemunhos indignados de duas pessoas respeitáveis: Antonio Veronese, artista plástico vivendo em Paris e João Cândido Portinari, filho do genial pintor Cândido Portinari, cujas telas grandiosas estão na entrada do edifício da ONU em Nova York e cuja imagem foi desfigurada e deturpada, repetidas vezes, pela revista-escaravelho.
___________________________________________________________________
Oscar Niemeyer e a imprensa tupiniquim- Antonio Veronese
Crítica mesquinha, que pune o Talento, essa ousadia imperdoável de alçar os cornos acima da manada. No Brasil, Talento, como em nenhum outro país do mundo, é indigerível por parte da imprensa, que se acocora, devorada por inveja intestina. Capitania hereditária de raivosos bufões que já classificou a voz de Pavarotti de ruído de pia entupida; a música de Tom Jobim de americanizada; João Gilberto de desafinado e Cândido Portinari de copista…
Quando morre um homem de Talento, como agora o grande Niemeyer, os raivosos bufões babam diante do espelho matinal sedentos de escárnio.
Não discuto a liberdade da imprensa. Mas a pergunta que se impõe é como um cidadão, com a dimensão internacional de Oscar Niemeyer, (sua morte foi reverenciada na primeira página de todos os grandes jornais do mundo) pode ser chamado, por um jornalista mequetrefe, num órgão de imprensa de cobertura nacional, de metade-gênio-metade idiota? Isso após sua morte, quando não é mais capaz de defender-se, e ainda que sob a desculpa covarde, de reproduzir citação de terceiros… O consolo que me resta é que a História desinteressa-se desses espasmos da estupidez. Quem se lembra hoje dos críticos da bossa nova ou de Villa-Lobos? Ao talent, no entanto, está reservada a reverência da eternidade.
Antonio Veronese (mideart@gmail.com)
••••••••••••••••••
Meu caro Antonio,
Que beleza o seu texto, um verdadeiro bálsamo para os que ainda acreditam no mundo de amanhã nascendo do espírito, da fé e do caráter dos homens de hoje!
Não é toda a imprensa, felizmente. Há também muita dignidade e valor na mídia brasileira. Mas não devemos nos surpreender com a revista semanal. Em termos de vileza, ela sempre consegue se superar. Ela terá, mais cedo ou mais tarde, o destino de todas as iniquidades: a vala comum do lixo, onde nem a história se dará o trabalho de julgá-la.
Os arquivos do Projeto Portinari guardam um sem número de artigos desta rancorosa revista, assim como de outras da mesma editora, sobre meu pai, Cândido Portinari e outros seus companheiros de geração. Sempre pérfidos, infames e covardes, como este que vem agora tentar apequenar um grande homem que para sempre enaltecerá a nossa terra e o nosso povo.
Caro amigo, é impossível ficar calado, diante de tanta indignidade.
Com o carinho e a admiração do
Professor João Candido Portinari (portinari@portinari.org.br)
*Leonardo Boff é filósofo, teólogo, escritor e comisionado da Carta da Terra.
sábado, 8 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Del Bosque e o futebol brasileiro
UOL Esporte: Você concorda que a seleção da Espanha é melhor do mundo hoje?
Vicente Del Bosque: Claro que sim, é evidente que sim. É só se fixar nos dados, nos feitos. Estamos numa época muito boa na Espanha e os títulos demonstram isso.
Vicente Del Bosque: Claro que sim, é evidente que sim. É só se fixar nos dados, nos feitos. Estamos numa época muito boa na Espanha e os títulos demonstram isso.



UOL
Esporte: A Espanha sempre foi um país com clubes fortes, mas sem uma
seleção competitiva. Existe uma explicação para agora ter uma equipe tão
forte?
Del Bosque: Acho que principalmente porque os jogadores têm o espírito competitivo que é necessário. Nos clubes eles sempre ganharam grandes títulos, sempre tivemos equipes competitivas e finalmente isso foi refletido para a seleção. E também porque na Espanha aconteceram coisas que tiveram consequências positivas. Até a saída de jogadores para o exterior e de técnicos também influenciou nisso. Na Inglaterra foram alguns. Vieram nomes estrangeiros também, técnicos muito bons. Isso mexeu com o nosso futebol. Claro que temos uma geração muito boa, mas tivemos grandes jogadores antes. Teve um fator também que foi importante: acho que esquecemos um pouco aquela febre de disciplina tática. Agora há um equilíbrio, demos mais espaço para o talento dos jogadores. E vejo que temos uma situação boa para o futuro. Vejo nesses jogadores atuais nomes que poderão ser bons técnicos para o futuro, para levar isso adiante.
UOL Esporte: Durante a sua entrevista coletiva no evento do sorteio da Copa das Confederações você foi muito questionado sobre a instabilidade da seleção brasileira. Existe algo que a Espanha atual pode ensinar para o Brasil?
Del Bosque: Foi raro mesmo ser perguntado sobre a seleção brasileira. Como se eu tivesse a chave para resolver os problemas. Tampouco tenho a solução para o futebol do Brasil. Sempre parece que as seleções que ganham criam uma tendência. Nós somos assim, pelos nossos jogadores, pela posse de bola, acabamos marcando agora essa tendência. Mas não é o único caminho para conseguir o êxito. De fora, vocês brasileiros viram os títulos da seleção, os do Barcelona, os do Real Madrid. Então o futebol espanhol tem uma imagem boa e isso é evidenciado em situações como esse, quando se pergunta. Ser uma tendência é positivo, não posso negar.
UOL Esporte: E como você viu a troca de técnico na seleção brasileira? É algo que acontece muito no Brasil, na seleção e nos clubes.
Del Bosque: Acontece o mesmo na Espanha. É uma pena que se troque muito de técnicos, algo ruim, mas faz parte. O importante é que o dirigente acredite no técnico, que os jogadores acreditem no trabalho dele. Se isso não acontece é impossível. Aí vem a mudança. O desgaste da convivência com o jogador diária, uma mudança mal feita são coisas que vão minando, por exemplo, a força do técnico. A solução para o dirigente é trocar.
Del Bosque: Acho que principalmente porque os jogadores têm o espírito competitivo que é necessário. Nos clubes eles sempre ganharam grandes títulos, sempre tivemos equipes competitivas e finalmente isso foi refletido para a seleção. E também porque na Espanha aconteceram coisas que tiveram consequências positivas. Até a saída de jogadores para o exterior e de técnicos também influenciou nisso. Na Inglaterra foram alguns. Vieram nomes estrangeiros também, técnicos muito bons. Isso mexeu com o nosso futebol. Claro que temos uma geração muito boa, mas tivemos grandes jogadores antes. Teve um fator também que foi importante: acho que esquecemos um pouco aquela febre de disciplina tática. Agora há um equilíbrio, demos mais espaço para o talento dos jogadores. E vejo que temos uma situação boa para o futuro. Vejo nesses jogadores atuais nomes que poderão ser bons técnicos para o futuro, para levar isso adiante.
UOL Esporte: Durante a sua entrevista coletiva no evento do sorteio da Copa das Confederações você foi muito questionado sobre a instabilidade da seleção brasileira. Existe algo que a Espanha atual pode ensinar para o Brasil?
Del Bosque: Foi raro mesmo ser perguntado sobre a seleção brasileira. Como se eu tivesse a chave para resolver os problemas. Tampouco tenho a solução para o futebol do Brasil. Sempre parece que as seleções que ganham criam uma tendência. Nós somos assim, pelos nossos jogadores, pela posse de bola, acabamos marcando agora essa tendência. Mas não é o único caminho para conseguir o êxito. De fora, vocês brasileiros viram os títulos da seleção, os do Barcelona, os do Real Madrid. Então o futebol espanhol tem uma imagem boa e isso é evidenciado em situações como esse, quando se pergunta. Ser uma tendência é positivo, não posso negar.
UOL Esporte: E como você viu a troca de técnico na seleção brasileira? É algo que acontece muito no Brasil, na seleção e nos clubes.
Del Bosque: Acontece o mesmo na Espanha. É uma pena que se troque muito de técnicos, algo ruim, mas faz parte. O importante é que o dirigente acredite no técnico, que os jogadores acreditem no trabalho dele. Se isso não acontece é impossível. Aí vem a mudança. O desgaste da convivência com o jogador diária, uma mudança mal feita são coisas que vão minando, por exemplo, a força do técnico. A solução para o dirigente é trocar.



UOL Esporte: Quem é, na sua opinião, o melhor jogador do mundo hoje?
Del Bosque: Difícil. Essas escolhas são difíceis. Nós, na seleção espanhola, decidimos, acreditando que precisamos também de um respaldo individual para os nossos jogadores, escolher os dois capitães, Casillas e Xavi, e o Iniesta. Votamos nesses três para o prêmio da Fifa e é justo. É uma questão racional. Não é por isso que eu fecho os olhos para o que fazem Messi e [Cristiano] Ronaldo. São duas feras do futebol.
UOL Esporte: E o Neymar, você acha que ele está no mesmo nível dos melhores do mundo?
Del Bosque: Acho que ainda falta respaldo, mais jogos internacionais para ele ainda, até mesmo com a seleção. Neymar tem condições fantásticas. É um talento.
UOL Esporte: No Brasil, existe uma discussão sobre se ele pode ser o melhor do mundo atuando aqui. O que você acha?
Del Bosque: Difícil falar, mas me lembro do caso do Robinho, por exemplo. Quando ele chegou na Europa tinha grandes condições, e ele tem de verdade, mas o seu rendimento não foi de acordo com o que se esperava. Então tem que esperar um pouco, para saber se a personalidade do Neymar e o seu caráter farão com que ele seja um dos grandes. O Cristiano Ronaldo e o Messi são muito bons, mas além disso são competitivos. Eles ajudam os seus times a ganhar, o que é o mais importante.
UOL Esporte: E vendo jogos do Neymar você o analisa como um jogador competitivo?
Del Bosque: Sim, mas só acho que temos que esperar um pouquinho para ver como ele se sairá no nível internacional, de seleção. Agora mesmo não há nada o que se falar mal do Neymar.
UOL Esporte: No Real Madrid você trabalhou com muitos brasileiros. Que recordações tem deles?
Del Bosque: Foram extraordinários. Me lembro do Flávio Conceição, por exemplo. Contratamos quando eu estava lá. Ele era um jogador muito completo, gostava dele. O Roberto Carlos foi outro. Para mim é o melhor lateral-esquerdo da história. Não houve outro melhor que ele na posição. Era ofensivo, um físico incrível. Jogávamos com o Zidane por dentro e ele tinha a liberdade para avançar. Era incrível o que fazia. O Ronaldo também encantava. Foi um jogador singular, não haverá outro.
Del Bosque: Difícil. Essas escolhas são difíceis. Nós, na seleção espanhola, decidimos, acreditando que precisamos também de um respaldo individual para os nossos jogadores, escolher os dois capitães, Casillas e Xavi, e o Iniesta. Votamos nesses três para o prêmio da Fifa e é justo. É uma questão racional. Não é por isso que eu fecho os olhos para o que fazem Messi e [Cristiano] Ronaldo. São duas feras do futebol.
UOL Esporte: E o Neymar, você acha que ele está no mesmo nível dos melhores do mundo?
Del Bosque: Acho que ainda falta respaldo, mais jogos internacionais para ele ainda, até mesmo com a seleção. Neymar tem condições fantásticas. É um talento.
UOL Esporte: No Brasil, existe uma discussão sobre se ele pode ser o melhor do mundo atuando aqui. O que você acha?
Del Bosque: Difícil falar, mas me lembro do caso do Robinho, por exemplo. Quando ele chegou na Europa tinha grandes condições, e ele tem de verdade, mas o seu rendimento não foi de acordo com o que se esperava. Então tem que esperar um pouco, para saber se a personalidade do Neymar e o seu caráter farão com que ele seja um dos grandes. O Cristiano Ronaldo e o Messi são muito bons, mas além disso são competitivos. Eles ajudam os seus times a ganhar, o que é o mais importante.
UOL Esporte: E vendo jogos do Neymar você o analisa como um jogador competitivo?
Del Bosque: Sim, mas só acho que temos que esperar um pouquinho para ver como ele se sairá no nível internacional, de seleção. Agora mesmo não há nada o que se falar mal do Neymar.
UOL Esporte: No Real Madrid você trabalhou com muitos brasileiros. Que recordações tem deles?
Del Bosque: Foram extraordinários. Me lembro do Flávio Conceição, por exemplo. Contratamos quando eu estava lá. Ele era um jogador muito completo, gostava dele. O Roberto Carlos foi outro. Para mim é o melhor lateral-esquerdo da história. Não houve outro melhor que ele na posição. Era ofensivo, um físico incrível. Jogávamos com o Zidane por dentro e ele tinha a liberdade para avançar. Era incrível o que fazia. O Ronaldo também encantava. Foi um jogador singular, não haverá outro.



UOL Esporte: O Ronaldo gostava de treinar no Real Madrid?
Del Bosque: Acho que sim (risos). Não tenho queixas do Ronaldo. Ele fazia as coisas que mais gostava que era jogar e treinar também. Fomos exigentes como devíamos ter sido com ele. Eu também acho que cada jogador tem ser tratado de forma individual, com cobranças distintas. Tivemos uma boa relação. Além do mais, ele é um garoto muito inteligente, conhece as coisas, as pessoas. Ele capta muito tudo rápido.
UOL Esporte: Vocês ainda se falam?
Del Bosque: Não, só em eventos como aqui. Vi que está fazendo uma dieta, né?. Espero que seja feliz.
UOL Esporte: A Espanha vive um momento incrível no futebol. A seleção é a melhor do mundo. Real Madrid e Barcelona têm os melhores jogadores do mundo. Ao mesmo tempo o país vive uma crise econômica fortíssima, com aumento no desemprego e sem crescimento econômico. Isso é assunto tratado na seleção? O que se fala da crise econômica no país?
Del Bosque: Claro que esse acaba sendo um assunto no time. Não estamos alheios ao que acontece. Os jogadores são sensíveis. Todos conhecem alguém, mesmo na família, que está passando por problemas. Isso é conversado. Esperamos que seja uma situação transitória, que se resolva. Tudo na vida tem solução. Não somos a única grande nação que enfrenta esse problema. Levará um tempo, mas sairemos dessa situação.
UOL Esporte: Você acha que seria uma injustiça o Xavi terminar a carreira sem ganhar o título de melhor jogador do mundo?
Del Bosque: Eu acho que mais importante que o prêmio que ele poderia ter recebido é a consideração que ele tem dos seus colegas. Mais, a consideração que ele tem dos rivais, seja na Espanha ou em outros lugares. Isso ninguém tira dele. O Xavi é o melhor meia do mundo, tem valores geniais. É um meia perfeito. Ele colabora defensivamente, constrói o jogo, faz gols. É um jogador completo.
UOL Esporte: O ex-técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, armou o time nos seus últimos jogos sem um camisa “9”. Você acha que é uma influência da seleção espanhola?
Del Bosque: Eu acho que o que eu falava em criar tendência...isso também não é regra. Isso depende dos jogadores que você tem. Se você tem um "9", um centroavante muito bom, quais os meias que você tem...cada time é um mundo de opções.
UOL Esporte: Se você tivesse o Ronaldo no seu time, jogaria com um “9”?
Del Bosque: (risos) Eu sempre joguei com o Ronaldo quando ele estava bem. Ele é um jogador universal, jogaria onde fosse, de atacante, meia, até lateral. Era um especialista como “9”, mas podia atuar onde quisesse. Mas, sim, ele jogaria no meu time.
UOL Esporte: No Brasil se iniciou uma campanha pelo Guardiola na seleção brasileira. Você acha que ele teria sucesso?
Del Bosque: Olha, eu dei umas declarações sobre ele e pareceu que eu estava dizendo o que ele deveria fazer. Eu disse que ele deveria voltar a treinar. Mas eu respeito a sua decisão. Ele tem o direito de decidir e saber o que quer. O que eu disse é porque ele representa muito bem os treinadores da Espanha, faz o seu trabalho de forma brilhante. Fico feliz que tenhamos treinadores dessa qualidade. Ele se daria bem em qualquer lugar. Mas o Brasil tem um técnico, o Luiz Felipe Scolari.
UOL Esporte: Como um técnico com história no Real Madrid consegue viver em paz com o Barcelona numa Espanha que é tão dividida entre os dois clubes?
Del Bosque: Eu trato de fazer as coisas na maior justiça. Eu não nego o meu clube, onde me criei, fiquei 36 anos e defendi até a morte, que é o Real Madrid. Mas agora sou técnico da Espanha e não tenho preferência por nenhum clube. E o que me faz escolher são os jogadores, o que eles estão fazendo.
UOL Esporte: Existem movimentos políticos que reivindicam que a Catalunha se torne um país independente da Espanha. O próprio presidente da Generalitat (governador da Catalunha), Artur Mas, defende a separação. Se isso acontecesse, certamente a sua seleção perderia quase metade dos jogadores (Xavi, Busquests, Puyol, Fábregas, Jordi Alba, Martín Montoya). O que você acha disso?
Del Bosque: Mesclar política com o esporte não é o melhor. Hoje a Catalunha é Espanha e trabalho com essa situação. Não acredito que isso vai mudar. Enquanto eu tiver de técnico não vai mudar e trabalho com essa realidade.
Del Bosque: Acho que sim (risos). Não tenho queixas do Ronaldo. Ele fazia as coisas que mais gostava que era jogar e treinar também. Fomos exigentes como devíamos ter sido com ele. Eu também acho que cada jogador tem ser tratado de forma individual, com cobranças distintas. Tivemos uma boa relação. Além do mais, ele é um garoto muito inteligente, conhece as coisas, as pessoas. Ele capta muito tudo rápido.
UOL Esporte: Vocês ainda se falam?
Del Bosque: Não, só em eventos como aqui. Vi que está fazendo uma dieta, né?. Espero que seja feliz.
UOL Esporte: A Espanha vive um momento incrível no futebol. A seleção é a melhor do mundo. Real Madrid e Barcelona têm os melhores jogadores do mundo. Ao mesmo tempo o país vive uma crise econômica fortíssima, com aumento no desemprego e sem crescimento econômico. Isso é assunto tratado na seleção? O que se fala da crise econômica no país?
Del Bosque: Claro que esse acaba sendo um assunto no time. Não estamos alheios ao que acontece. Os jogadores são sensíveis. Todos conhecem alguém, mesmo na família, que está passando por problemas. Isso é conversado. Esperamos que seja uma situação transitória, que se resolva. Tudo na vida tem solução. Não somos a única grande nação que enfrenta esse problema. Levará um tempo, mas sairemos dessa situação.
UOL Esporte: Você acha que seria uma injustiça o Xavi terminar a carreira sem ganhar o título de melhor jogador do mundo?
Del Bosque: Eu acho que mais importante que o prêmio que ele poderia ter recebido é a consideração que ele tem dos seus colegas. Mais, a consideração que ele tem dos rivais, seja na Espanha ou em outros lugares. Isso ninguém tira dele. O Xavi é o melhor meia do mundo, tem valores geniais. É um meia perfeito. Ele colabora defensivamente, constrói o jogo, faz gols. É um jogador completo.
UOL Esporte: O ex-técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, armou o time nos seus últimos jogos sem um camisa “9”. Você acha que é uma influência da seleção espanhola?
Del Bosque: Eu acho que o que eu falava em criar tendência...isso também não é regra. Isso depende dos jogadores que você tem. Se você tem um "9", um centroavante muito bom, quais os meias que você tem...cada time é um mundo de opções.
UOL Esporte: Se você tivesse o Ronaldo no seu time, jogaria com um “9”?
Del Bosque: (risos) Eu sempre joguei com o Ronaldo quando ele estava bem. Ele é um jogador universal, jogaria onde fosse, de atacante, meia, até lateral. Era um especialista como “9”, mas podia atuar onde quisesse. Mas, sim, ele jogaria no meu time.
UOL Esporte: No Brasil se iniciou uma campanha pelo Guardiola na seleção brasileira. Você acha que ele teria sucesso?
Del Bosque: Olha, eu dei umas declarações sobre ele e pareceu que eu estava dizendo o que ele deveria fazer. Eu disse que ele deveria voltar a treinar. Mas eu respeito a sua decisão. Ele tem o direito de decidir e saber o que quer. O que eu disse é porque ele representa muito bem os treinadores da Espanha, faz o seu trabalho de forma brilhante. Fico feliz que tenhamos treinadores dessa qualidade. Ele se daria bem em qualquer lugar. Mas o Brasil tem um técnico, o Luiz Felipe Scolari.
UOL Esporte: Como um técnico com história no Real Madrid consegue viver em paz com o Barcelona numa Espanha que é tão dividida entre os dois clubes?
Del Bosque: Eu trato de fazer as coisas na maior justiça. Eu não nego o meu clube, onde me criei, fiquei 36 anos e defendi até a morte, que é o Real Madrid. Mas agora sou técnico da Espanha e não tenho preferência por nenhum clube. E o que me faz escolher são os jogadores, o que eles estão fazendo.
UOL Esporte: Existem movimentos políticos que reivindicam que a Catalunha se torne um país independente da Espanha. O próprio presidente da Generalitat (governador da Catalunha), Artur Mas, defende a separação. Se isso acontecesse, certamente a sua seleção perderia quase metade dos jogadores (Xavi, Busquests, Puyol, Fábregas, Jordi Alba, Martín Montoya). O que você acha disso?
Del Bosque: Mesclar política com o esporte não é o melhor. Hoje a Catalunha é Espanha e trabalho com essa situação. Não acredito que isso vai mudar. Enquanto eu tiver de técnico não vai mudar e trabalho com essa realidade.
Marcadores:
futebol,
Neymar,
Robinho,
Seleção Brasileira,
Vicente del Bosque
Dois a sós
Para Leyla Perrone-Moisés, Improviso de Ohio
é uma peça "singular no universo de Beckett”. Se as personagens
beckettianas são sempre solitárias e se relacionam num regime de
sadomasoquismo ou mediante uma relação mestre/escravo, em “Improviso de
Ohio” não há nenhuma agressividade ou crueldade; pelo contrário, o que
aí se narra é elevado. Trata-se de um amor que foi feliz: “amor por/de
alguém que já morreu e envia outro para confortar o que ficou”. Segundo
Perrone-Moisés, este texto pertence ao gênero clássico chamado
''consolatio''. Beckett, em plena condensação poética, trata do amor sem
sentimentalismos, reduzindo tudo ao essencial.
Porém, certamente, o melhor do artigo está na explicação para a nova tradução, já que Haroldo de Campos e Maria Helena Kopschitz já tinham realizado outra anteriormente. Como o texto tinha versões de Beckett em inglês e francês, Leyla afirma que sua tradução está mais próxima do texto em francês, ao contrário da tradução anterior. Isso permite, por exemplo, encontrar outras soluções para traduzir expressões como “alone together”, que em francês virou “seuls ensemble”. Campos e Kopschitz traduziram por ''a sós juntos''. Já Perrone-Moisés preferiu aproveitar alguns versos de Fernando Pessoa : ''Hoje, falho de ti, sou dois a sós, / Há almas pares, as que conheceram / Onde os seres são almas./ Como éramos só um, falando! Nós / Éramos como um diálogo numa alma. / Não sei se dormes (...) calma, / Sei que, falho de ti, estou um a sós''.
Porém, certamente, o melhor do artigo está na explicação para a nova tradução, já que Haroldo de Campos e Maria Helena Kopschitz já tinham realizado outra anteriormente. Como o texto tinha versões de Beckett em inglês e francês, Leyla afirma que sua tradução está mais próxima do texto em francês, ao contrário da tradução anterior. Isso permite, por exemplo, encontrar outras soluções para traduzir expressões como “alone together”, que em francês virou “seuls ensemble”. Campos e Kopschitz traduziram por ''a sós juntos''. Já Perrone-Moisés preferiu aproveitar alguns versos de Fernando Pessoa : ''Hoje, falho de ti, sou dois a sós, / Há almas pares, as que conheceram / Onde os seres são almas./ Como éramos só um, falando! Nós / Éramos como um diálogo numa alma. / Não sei se dormes (...) calma, / Sei que, falho de ti, estou um a sós''.
O bilingüismo de Beckett
Em Beckett, impressiona, indiscutivelmente, o seu peculiar bilingüismo. Ele oscila entre duas línguas e traduz a si mesmo. Tudo atrelado às dificuldades de uma prosa que, tocada por um narrador que se põe em xeque a cada passo, rarefaz o enredo, dissolve os personagens, abandona a pontuação, abraça a elipse e a repetição como procedimentos. Fundamental notar que Beckett é um escritor que se fixou numa língua que não é a sua. Há aí, sem dúvida, todo um afã
de despersonalização. Para Ferreira Gullar, Beckett é apenas um
"chatola". Para outros escritores, há a percepção (menos superficial) de
que a escrita de Beckett visa a uma lógica fria, a um distanciamento que dificilmente ele chegaria se escrevesse em sua língua materna.
Beckett e Artaud
Luiz Fernando Ramos fez, certa feita, uma interessante aproximação entre
Antonin Artaud e Samuel Beckett. Por um lado, Beckett tem um verdadeiro
culto à palavra. Por outro, Artaud escreve que “o mais urgente não me
parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer
ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor, mas extrair,
daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da
fome”. Artaud defende uma “poesia no espaço, independente da linguagem
articulada” cuja encenação seria metafísica e alquímica contra “a
ditadura exclusiva da palavra”. Dois posicionamentos bem distantes.
Porém, havia em ambos a busca de uma nova escritura que tivesse por
objetivo incorporar a materialidade mesmo da cena. Se Beckett procurou
trazê-la a partir das palavras e principalmente através da rubricas,
Artaud, por sua vez, buscava uma despalavra
cujas possibilidades de realização não estavam no cérebro do autor,
“mas na própria natureza”, “no espaço real”. Segundo Ramos, "Beckett
buscou inscrever na palavra o corpo da cena. Artaud pretendeu revelar o
corpo da cena com a invenção de uma nova palavra".
Marcadores:
Antonin Artaud,
Luiz Fernando Ramos,
Samuel Beckett,
teatro
Toca da Raposa
Em 2007, a Volks faturou 21 bilhões de reais no Brasil, com crescimento
de 33% nas vendas. Sabe-se que, se dependesse somente de suas vendas na
América do Norte ou na Europa, a empresa alemã estaria no vermelho.
Mesmo assim os descuidos com o consumidor brasileiro são enormes. Não
podemos esquecer do caso "Fox", modelo produzido desde 2003, que
apresenta defeitos como uma tal trava que serve para ampliar o espaço do
bagageiro, mas também tem como virtude decepar os dedos dos desavisados
que a acionam. Como se vê, o aumento da produção automobilística não
causa só a amputação do tempo, mas também outras mutilações. E assim,
seguimos: uma bancarrota blues da expansão da economia ...
Assinar:
Postagens (Atom)